Notícias > EXERCÍCIO DA ÉTICA APLICADA NA TOMADA DE DECISÃO RESPONSIVA

Por Marcelo Esteves

 

 

Ao analisar a ética nas instituições, é importante destacar que a missão de uma instituição estabelece os propósitos, objetivos e fins que ela irá perseguir, sempre respondendo aos interesses coletivos. No caso das instituições públicas, a missão deve estar alinhada com o horizonte ético.

 

Dentro desse contexto, encontramos os membros da instituição, ou seja, os agentes responsáveis por conduzir esses princípios éticos. Esses agentes desempenham um papel crucial na garantia de que a instituição cumpra sua missão de forma ética e responsável. Eles são os responsáveis por tomar decisões e agir em conformidade com os valores e princípios estabelecidos, assegurando que as ações da instituição sejam pautadas pela integridade, honestidade e justiça.

 

Os agentes da instituição devem ser conscientes de seu papel como representantes do interesse público e agir de acordo com elevados padrões éticos. Isso implica em tomar decisões éticas, ser transparente em suas ações, evitar conflitos de interesse e tratar todas as pessoas com equidade e respeito.

 

Além disso, é fundamental que os agentes estejam comprometidos com o desenvolvimento de uma cultura ética na instituição, promovendo a disseminação dos valores éticos, a conscientização sobre a importância da ética e a implementação de mecanismos de controle e accountability.

 

A ética desempenha um papel fundamental na administração pública, especialmente quando se trata da tomada de decisão responsiva. Em outras palavras, refere-se à capacidade dos gestores e servidores públicos de responderem de maneira ágil, eficiente e ética às demandas e necessidades da sociedade. Os princípios éticos desempenham um papel central e esses princípios são diretrizes morais que orientam as ações e decisões dos gestores públicos, garantindo que elas sejam pautadas pelo interesse público e pela busca do bem comum.

 

Os gestores públicos devem agir em conformidade com as leis e normas vigentes. Isso implica respeitar os procedimentos legais, evitar o uso arbitrário do poder e combater a corrupção. Além disso, devem tratar todos os indivíduos de forma justa e equitativa, sem discriminação ou favorecimento indevido. A imparcialidade e a equidade são fundamentais para garantir a igualdade de oportunidades e a distribuição justa de recursos públicos.

 

A transparência é essencial e os gestores públicos devem assegurar a divulgação clara e acessível de informações relevantes sobre suas decisões, processos e resultados. Isso contribui para o fortalecimento da confiança da sociedade nas instituições públicas e permite a participação informada dos cidadãos. No âmbito das práticas, a prestação de contas envolve a transparência na gestão de recursos públicos, a responsabilização por eventuais falhas e a busca pela melhoria contínua da performance organizacional. A divulgação clara e acessível de informações relevantes para a sociedade, juntamente com mecanismos efetivos de prestação de contas, contribuem para a promoção da transparência e do controle social.

 

No entanto, existem desafios significativos. Pressões e conflitos de interesse podem influenciar as decisões, desviando-as do interesse público. É fundamental identificar e gerenciar adequadamente esses conflitos, adotando mecanismos de transparência para combater práticas corruptas.

Para promover o exercício da ética, é necessário superar obstáculos culturais e estruturais. A resistência a mudanças e a adoção de práticas éticas em organizações burocráticas e hierarquizadas pode ser um desafio. É importante promover a conscientização ética e a formação dos servidores públicos, criando uma cultura ética sólida e um ambiente propício para a discussão e solução de dilemas éticos.

 

Dessa forma, a ética nas instituições é um componente essencial para garantir o cumprimento da missão e a prestação de serviços públicos de qualidade, atendendo aos interesses coletivos e promovendo a confiança e a legitimidade da instituição perante a sociedade. Para que haja um engajamento ético, Marvin T. Brown, diz que precisamos de uma perspectiva que traga à luz as dimensões morais da vida organizacional. A ética e moral recobrirão o mesmo tipo de fenômeno, são entendidas como uma reflexão das nossas ações e tem em vista a realização do bem (BROWN, 1993). Alguns autores entendem como equivalentes semânticos. Embora outros definem como distintas, cada uma com sentido específico. Kant, afirma que a ação moral vale para todo ser racional e deve estar fundada na razão. “O caráter essencial de toda determinação da vontade pela lei moral é que ela seja determinada simplesmente pela lei moral como vontade livre” (KANT, 2009).

 

Para que o pensamento da ética aplicada nas instituições ocorra, devemos considerar que seus membros sejam agentes morais. Isso significa que a perspectiva ética sinalizada pela atuação de uma instituição não se resume apenas a evitar falhas de natureza moral. Uma instituição demonstra uma vivência ética não apenas por agir dentro da lei. A ética deve estar presente já na tomada de decisões, nas atitudes e nas ações tomadas. A preocupação ética deve estar presente não para evitar erros ou punições, mas sim porque a instituição tem propósitos estabelecidos em sua missão. Isso também se aplica a nós! Cada ação proposta deve responder a uma preocupação ética e buscar responder da melhor maneira possível aos seus propósitos desde o início. Todos esses processos envolvem uma questão ética: como melhorar, como aprimorar, como agir e também porque respondemos a outras instâncias. Dessa forma, nossas ações têm um impacto direto na vida de outras pessoas.

 

A ética transcende a dicotomia entre teoria e prática, pois envolve uma reflexão profunda sobre as ações e a práxis, ao mesmo tempo em que garante a liberdade dos indivíduos. Independentemente da versão e dos contextos históricos, existem elementos que acompanham a reflexão ética. No entanto, nem toda ação traz consigo uma dimensão ética; apenas aquelas que levantam questões éticas exigem uma tomada de decisão ética.

 

Essa tomada de decisão é impulsionada por um grau de liberdade, permitindo a formulação de propósitos e objetivos, bem como a ponderação dos prós e contras envolvidos. Existem várias abordagens possíveis para alcançar um objetivo ético. No contexto organizacional, os membros de uma instituição não são meros funcionários, mas sim agentes morais. Eles assumem um nível de responsabilidade especial dentro do contexto de atuação da instituição.

 

Nesse sentido, a atuação ética em uma instituição implica em reconhecer e abraçar essa responsabilidade, além de considerar os impactos de suas ações não apenas em termos de resultados tangíveis, mas também em relação aos valores e princípios éticos que regem a organização. Ser um agente moral implica em estar consciente do peso das decisões e das ações realizadas, buscando sempre agir de acordo com os mais altos padrões éticos e contribuindo para o bem comum dentro do contexto organizacional.

 

Assim, a ética desafia os membros das instituições a transcenderem a simples execução de tarefas e a se tornarem agentes ativos na construção de uma cultura organizacional ética, na qual a liberdade, a responsabilidade e a busca por propósitos elevados são valorizados e colocados em prática de forma consistente.

 

Marvin Brown apresenta uma dissertação relevante ao afirmar que as organizações são, essencialmente, comunidades humanas e morais compostas por indivíduos. Dentro dessas organizações, é crucial que existam condições dignas de convivência, justiça e respeito aos direitos humanos. Isso requer um processo ético contínuo, no qual os indivíduos, atuando como agentes morais, adotem uma perspectiva ética em relação aos seus colegas e reconheçam sua vontade e poder dentro do contexto organizacional (BROWN, 1993).

 

Essa visão enfatiza a importância das relações humanas nas organizações e destaca a necessidade de uma abordagem ética que vá além das meras considerações econômicas ou técnicas. Reconhecer as organizações como comunidades morais implica em valorizar a dignidade e os direitos de cada indivíduo envolvido, promovendo a justiça, a igualdade e o respeito mútuo.

 

O processo ético contínuo mencionado por Brown indica que a ética não é uma questão isolada ou pontual, mas sim uma jornada constante de reflexão, diálogo e ação em prol de valores éticos. Os indivíduos são convocados a assumir a responsabilidade de cultivar uma cultura organizacional que valorize a ética em todas as dimensões de suas interações e decisões.

 

Dessa forma, a perspectiva ética proposta por Brown nos desafia a transcender abordagens unicamente utilitárias ou de maximização de lucros, reconhecendo que as organizações têm um papel mais amplo na sociedade. Ao adotar uma visão ética, os agentes morais dentro das organizações podem contribuir para a construção de um ambiente mais humano, justo e respeitoso, tanto dentro da organização quanto em suas interações com outras organizações e com a sociedade como um todo.


Notícia cadastrada em 28/05/2023 15:58  
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