Práticas de Leitura e Escrita na Formação em Ciências e Tecnologia
Práticas de leitura e escrita. Língua materna. Ciências e tecnologia.
O debate em torno da necessidade de aprimoramento das práticas de leitura e escrita de profissionais das mais diferentes áreas do conhecimento vem ocasionando, em instituições brasileiras e estrangeiras de ensino superior, um movimento de inserção de componentes curriculares cujo foco é a leitura e a escrita na formação acadêmica. Para contribuir com a reflexão em torno desse debate esta dissertação tem como objeto de estudo a formação linguística situada. O nosso objetivo geral é analisar uma proposta de formação linguística voltada para graduandos do Bacharelado em Ciências e Tecnologia (BCT) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Para construir essa análise, estabelecemos quatro objetivos específicos: a) verificar se as dez Instituições de Ensino Superior (IES) brasileiras que oferecem o BCT contam com componentes curriculares de leitura e escrita voltados para essa formação; b) descrever como se apresentam os componentes curriculares de leitura e escrita desses bacharelados; c) examinar diferenças e semelhanças que, no geral, existem entre os componentes curriculares voltados para a leitura e a escrita em cada uma das instituições pesquisadas; d) explicitar que categorias delineiam a formação linguística desenvolvida no BCT da UFRN. A fim de alcançarmos os nossos objetivos, fundamentamo-nos na concepção dialógica da linguagem (BAKHTIN [1952-1953] 2010), nos estudos de letramento (KLEIMAN [1995] 2008; TINOCO, 2008) e na pedagogia crítica (FREIRE, 1980; 2007). Metodologicamente, esta pesquisa qualitativa de vertente etnográfica crítica (THOMAS, 1993) ancora-se na Linguística Aplicada (PEREIRA; ROCA, 2009; PASCHOAL; CELANI (Orgs.), 1992). Colaboram nesta pesquisa professores, bolsistas e monitores da área de Práticas de Leitura e Escrita (PLE) e também graduandos do BCT da UFRN que já cursaram PLE-I e/ou PLE-II. Os instrumentos utilizados para a coleta/geração de dados foram: programas dos componentes curriculares voltados para a leitura e a escrita nos BCT nas IES pesquisadas, questionários, entrevistas semi-estruturadas e perfis. Os dados gerados nos permitiram estabelecer as seguintes categorias de análise: situacionalidade (situação real, contemporaneidade temática e focalização temática) e projetos de letramento (comunidade de aprendizagem). Os resultados alcançados salientam que a maioria das IES que oferece o BCT já se preocupa em aprimorar as competências de leitura e escrita de seus graduandos; entretanto, ainda há muito a ser feito (ampliação de carga horária, revisão de conteúdos e de aspectos metodológicos, refinamento de referencial teórico) para que os componentes curriculares venham a se configurar como uma formação linguística situada e significativa. Por fim, tecemos algumas sugestões para o aprimoramento do trabalho que já vem se desenvolvendo no BCT da UFRN, fortalecendo assim o ensino de língua materna em cursos da área de ciências exatas e tecnológicas.