Práticas de letramento digital de professores em formação: demandas, saberes e impactos
Letramento digital. Letramento do professor. Etnografia virtual. Tecnologias da Informação e Comunicação. Redes de aprendizagem colaborativa.
1. Nas últimas décadas, as políticas públicas de inclusão digital têm investido significativamente na aquisição de hardwares e softwares com o intuito de oferecer tecnologia às instituições públicas de ensino brasileiras, especificamente, computadores e internet banda larga. A formação dos professores para lidar com esses artefatos, todavia, é posta em segundo plano, apesar de se mostrar uma exigência da sociedade da informação. Tendo isso em vista, esta dissertação elege como objeto de estudo as práticas de letramento digital efetivadas por 38 (trinta e oito) professores em formação inicial e continuada, por meio do curso de extensão Letramentos e tecnologias: ensino de língua portuguesa e demandas da cibercultura. Nessa direção, objetivamos investigar as práticas de letramento digital dos professores em formação, em três momentos específicos: antes, durante a após a realização desta ação de extensão, com o propósito de (i) delinear as práticas de letramento digital efetivadas pelos colaboradores antes da ação formativa; (ii) narrar os eventos de letramento viabilizados pelo curso de extensão; e (iii) investigar as contribuições do curso de formação para a prática docente dos colaboradores. Teoricamente, buscamos contribuições nos estudos do letramento (BAYNHAM, 1995; KLEIMAN, 1995; HAMILTON; BARTON; IVANIC, 2000), especificamente, no que diz respeito ao conceito de letramento digital (COPE, KALANTZIS, 2000; BUZATO, 2001, 2007, 2009; SNYDER, 2002, 2008; LANKSHEAR E KNOBEL, 2002, 2008) e à formação de professores (PERRENOUD, 2000; SILVA, 2001). Metodologicamente, este estudo etnográfico-virtual (KOZINETS, 1997; HINE, 2000), se insere no campo da Linguística Aplicada e adota a abordagem quali-quantitativa da pesquisa (NUNAN, 1992; DÖRNYEI, 2006). A análise dos dados permitiu evidenciar que (i) antes do curso, as práticas de letramento digital dos professores concentravam-se nas dimensões pessoal e acadêmica de suas realidades, em detrimento da dimensão profissional; (ii) durante a ação de extensão, os professores participaram, de modo colaborativo, das sessões de estudo semipresenciais com foco no uso pedagógico das TIC, efetivando práticas de letramento digital até então desconhecidas; (iii) após o curso, a postura dos professores colaboradores diante da utilização das TIC no seu cotidiano profissional sofreu modificações, uma vez que esses docentes passaram a utilizá-las efetivamente, dando visibilidade social ao que é produzido na escola. Observamos, ainda, que os professores em formação inicial atuaram como pares mais experientes no processo de aprendizagem colaborativa, oferecendo apoio – scaffolding (VYGOTSKY, 1978; BRUNER, 1985) – aos professores em formação continuada. Isso ocorreu em razão de os graduandos efetivarem práticas de letramento digital mais sofisticadas, por integrarem a chamada geração Y (PRENSKY, 2001).