A TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA DO DOMÍNIO DISCURSIVO PUBLICITÁRIO NOS LIVROS DIDÁTICOS DE LINGUA PORTUGUESA: ANTES E PÓS PCN
Gênero propaganda. Livro Didático. Transposição didática
O texto publicitário tem sido objeto de muitas investigações, dado o seu universo multimodal que lhe constitui. Consubstanciado por meio de uma materialidade linguística e discursiva que coloca em cena a persuasão, a argumentação e a potência imagética de elementos multissemióticos, ele atua como instrumento de poder, criando e destruindo, prometendo e negando (CARVALHO, 2007). A publicidade não só nos convida a agir por ela, mas nos direciona a olhar para ela. E foi sob esse movimento de olhar – de interrogações – que nasceram as discussões levantadas neste trabalho. As investigações são direcionadas para o espaço escolar, em especial, para os gêneros do domínio discursivo publicitário no Livro Didático de Língua Portuguesa. É a partir desse ambiente que nasce nossa pesquisa, cujo objetivo central é analisar como se realiza a transposição didática do gênero propaganda, em livros didáticos de ensino de Língua Portuguesa antes e depois do advento dos PCN. Os livros didáticos tomados como referência para o estudo situam-se, historicamente, nos anos 90 do século XX e 10 do século XXI. Dos livros pertencentes a essa temporalidade, foram eleitos aqueles referentes às 7ª e 8ª séries, atualmente correspondentes aos 8º e 9 º anos. A escolha se justifica pelo fato de ser nos LDP dessas séries de ensino que a presença do gênero publicitário é recorrente e “didatizado”. Além desse recorte, ocupamo-nos em analisar livros que circularam próximo de nós e de nossa realidade regional. Daí, elegermos livros que tiveram “vida” em duas escolas de ensino público: Escola Municipal Ana Clementina da Conceição (EMACC) do Município da cidade de Jaçanã no Estado do Rio Grande do Norte; Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Carlota Barreira (EEFMCB) da cidade de Areia, Estado da Paraíba. Os nossos dados geraram específicas categorias de análise, marcadas pela sua recorrência: (1) Presença da propaganda nos LDs; (2) Flutuação terminológica: conceitos e nomenclaturas; (3) A complexidade da facilitação de conceitos; (4) O que propagam: de que natureza são as propagandas exploradas. A partir de nossa análise, observamos como o tratamento do gênero publicitário vem sendo inserido no LD e como ocorre, de modo geral, sua transposição didática. Para aprofundar esse estudo, foi necessário, dialogar com a teoria da Transposição Didática do teórico francês Yves Chevallard (1991), com os estudiosos da área de Propaganda e Publicidade (SANDMAN, 2002; CARVALHO, 2007; etc) e, ainda, recorrer aos estudos sobre os gêneros textuais (BEZERRA, 2005; MARCUSCHI, 2008; etc), para compreendermos não apenas a flutuação terminológica que envolve os gêneros do domínio em estudo, como a facilitação de conceitos e teorias dada na exposição dos gêneros, fruto, de certo modo, da transposição didática operada pelos autores dos livros didáticos. Essas análises nos permitiram observar, ainda, a dificuldade na escolha e no universo de exploração multissemiótica dos textos.