Diálogos cascudianos: a herança ensaística de Prelúdio e fuga do real
Dialogismo, autobiografia, ensaismo
O presente trabalho consiste numa análise integrativa do Prelúdio e fuga do real, do escritor norte-rio-grandense Luís da Câmara Cascudo. Editado pela primeira vez em 1974, esse livro é uma obra da maturidade do escritor, e sua escrita revela, como procuramos demonstrar, traços recorrentes na produção cascudiana. Composto por 35 capítulos, Prelúdio e fuga do real apresenta diálogos entre um “eu- ficcionalizado” do próprio Luís da Câmara Cascudo, que atende ao vocativo de “professor”, e escritores e personagens da literatura ocidental, figuras religiosas e míticas, assim como personalidades políticas. Considerando a própria natureza do texto, nossa pesquisa tem como objetivo principal analisar as relações dialógicas presentes na obra, visando compreender seu posicionamento frente à tradição poética ocidental e sua reflexão sobre a experiência do homem na modernidade. Embora seu corpus seja composto pelo livro Prelúdio e fuga do real, convém lembrar a utilização de dados secundários coletados em outras fontes do mesmo autor, necessários para o cruzamento de informações e para o esclarecimento de alguns pontos obscuros. Desse modo, aproveitamos dados coletados em seus livros de registro autobiográfico, especialmente O tempo e eu (CASCUDO, 2008) e Na roda do tempo (CASCUDO, 2010). No tocante ao embasamento teórico-metodológico desta pesquisa, recorremos à análise integrativa de Candido (1971; 2002), aos conceitos de “dialogismo” e “polifonia” (BAKHTIN, 1988, 1992, 2002), assim como às noções de “memorialismo”, “autorretrato” e “autobiografia” (BEAUJOUR,1980; LECARME & LECARME-TABONE, 2004; LEJEUNE, 2008).