OS SERTÕES INFINITOS DA ESTÉTICA HIPER-REGIONAL DE JOÃO GUIMARÃES ROSA E ARIANO SUASSUNA
hiper-regionalismo; romance autodiegético e polifônico; narrador
O espaço liso do Sertão (na perspectiva deleuzeana) condensa a própria construção imagética da identidade nordestina, na perspectiva de boa parte dos habitantes sulistas (isto é, das regiões Sul e Sudeste) do Brasil, homogeneizando as diversas referências heterogênicas culturais do Nordeste. Daí, porque ao longo da nossa construção literária, esse espaço será sempre retomado em diversas estéticas com nuances estereotipadas. Assim, tendo em vista o exposto, este trabalho pretende dirimir essa visão preconceituosa em torno do nordestinoatravés de uma reconfiguração universal desse espaço identitário e cultural denominado Sertão (que se tornou síntese desta região). A reconfiguração universal desse espaço foi observada a partir de uma estética artística original que denominamos de hiper-regional constatada a partir de um estudo comparativo entre os romances “Grande Sertão: veredas” de João Guimarães Rosa e “Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-volta” de Ariano Vilar Suassuna. Para tal intento, partimos do ensaio “Literatura e Subdesenvolvimento” de Antonio Candido, no qual traça uma linha histórica nas transformações da estética regional fundamentando-se em uma visão econômica-ideológica de cada período literário a partir do Romantismo brasileiro (séc.XIX). No entanto, apesar de nos utilizarmos de várias linhas teóricas para traçar essa nova estética, a linha-mestra de nossa análise estará, essencialmente, em Bakhtin (1998; 2003; 2008; 2009) onde se debruçando sobre a categoria do narrador e de seu discurso (na estética hiper-regional), observaremos o intenso hibridismo da forma romanesca. Para explicar essa intensa diluição da forma estabelecemos dois processos de análise que denominamos de redemoinho narrativo e efeito matrioshka (explicados nos capítulos centrais da tese). Por fim, chegando à análise do “cronotopo” do Sertão (cronotopia principal da estética hiper-regional que articula os cronotopos do “Romance Autobiográfico” e do “Romance de Cavalaria” apontados por Bakhtin em sua obra “Questões de literatura e estética: a teoria do romance”, 1998) atingiremos o conceito identitário do “enraizamento dinâmico” proposto por Michel Maffesoli.