O drama norte-rio-grandense: uma análise de discurso pela perspectiva da Linguística Sistêmico-Funcional
Os dramas norte-riograndenses, objeto de estudo deste trabalho, são textos em versos curtos, da tradição oral, cantados e apresentados em palco por mulheres em comunidades no litoral do Rio Grande do Norte e configura-se como um fenômeno pouco registrado por folcloristas (CAMARA CASCUDO, 2001; GURGEL, 1982; GALVÃO, 1983) e em etnografias (FONSECA, 2008). A pesquisa objetiva caracterizar o gênero discursivo, investigar as avaliações feitas pelas mulheres nos textos e as negociações de poder nestes textos/contextos. Os conceitos de Gênero e de Registro (MARTIN; ROSE, 2008), que tem como base a Linguística Sistêmico-Funcional de Halliday e Matthiessen (2004) fornece o arcabouço teórico para a caracterização do gênero e uma metodologia apropriada na qual a tipologia (estrutura esquemática individual) e a topologia (a sua relação com os demais fenômeno da tradição oral) podem se configurar (MARTIN; ROSE, 2008). A análise dos sistemas discursivos de Avaliatividade e de Negociação (MARTIN; WHITE, 2005; MARTIN; ROSE, 2007) para mapear as atitudes e as negociações de papeis interpessoais dão pistas a respeito do papel que o gênero discursivo toma nas comunidades, bem como auxiliam em sua caracterização. A partir do corpus de pesquisa, caracterizamos o drama como um gênero na família de Estórias Orais, no macrogênero de Teatro da Praça, que se desdobra em estágios e fases recorrentes do tipo narrativo, caracterizado por Martin e Rose (2008), com a adição de duas fases: a ‘pseudo-solução’ e a ‘volta ao cenário’. Além disso, caracteriza-se como um discurso cuja função é a de circular apreciações positivas da cultura rural e julgamentos sobre comportamentos dos membros da comunidade de fala, o papel das mulheres sendo de estabelecer e reforçar normas. Os resultados apontam para a valorização das culturas locais e para a inserção do gênero analisado em projetos de letramento nas escolas do Rio Grande do Norte.