O CONTO “AQUELES DOIS” EM CENA: CAIO FERNANDO ABREU PARA ALÉM DO TEXTO LITERÁRIO
Caio Fernando Abreu, Aqueles Dois, Morangos Mofados, Cia. Luna Lunera.
Corpos perambulando numa modernidade efusiva e alienada registram a literatura de Caio Fernando Abreu que, na condição de cronista, escreveu também “Cartas para além do muro”, sessão que assinava no jornal paulistano “Estadão”, e posteriormente foram publicadas no livro Pequenas Epifanias (1996). Esta dissertação tem como escopo uma leitura analítica do conto “Aqueles Dois”, do livro Morangos Mofados (1982), e faz um percurso de como a narrativa do autor gaúcho ultrapassa muros e sobe ao palco para, sob as luzes da ribalta, transcender as linhas escritas. Nesse sentido, a análise se efetiva também numa leitura do espetáculo homônimo encenado pelo grupo de teatro mineiro “Cia. Luna Lunera”, discutindo os meios de adaptação do conto para a forma teatral. A fim de entender o período vivido pelo autor, um recorte do tempo obscuro da ditadura militar delineia o tempo fluido e as tensões sócio-políticas vividas pelo escritor. Dentro desse recorte, busca-se aqui perceber as possibilidades de desdobramento do texto de Caio F. dentro do espaço cênico, e ao mesmo tempo, compreender os meios pelos quais o escritor se valeu da cultura dominante para compor sua narrativa subversiva. Para a compreensão das questões propostas, o aporte teórico advém de autores que também enveredam pelos campos do comportamento humano e cênico, a exemplo de Zygmmunt Baumman, Julia Kristeva, Patrice Davis e Jean-Pierre Ryngaert.