MEMÓRIA COLETIVA E ORALIDADE NA FICÇÃO DE MIA COUTO: CADA HOMEM É UMA RAÇA
memória e oralidade na ficção de Mia Couto.
O objetivo dessa pesquisa é contribuir com estudos já realizados acerca da obra literária de Mia Couto e enriquecer a sua fortuna crítica. A análise será realizada sob a perspectiva dos elementos culturais moçambicanos – memória e oralidade, nos contos: “O embondeiro que sonhava pássaros”, “A princesa russa, “O pescador cego” e “A lenda da noiva e do forasteiro” contos que integram o livro Cada homem é uma raça (2005). Estes aspectos culturais formam dentro da ficção do moçambicano um conjunto de valores tradicionais que, em muito, são revelados na sua estética. Ecléa Bosi (1994) em Memória e Sociedade nos dá a ideia da dimensão espaço temporal entre passado e presente, que vê a memória como uma espécie de ponte entre os dois pontos, e vai, aos poucos, tecendo as vestes do tempo. Em Le Goff (2003), encontraremos reflexões sobre a memória e suas funções que integram seu livro História e Memória. O crítico observa a memória, não apenas como simples armazenamento de informações do passado, mas como uma apreensão do passado no presente para refletir no futuro. Sobre a oralidade, dentre outros começaremos com o livro Literatura oral no Brasil de Câmara Cascudo (1984). A obra faz uma descrição detalhada da literatura oral no Brasil, dando uma larga compreensão da formação histórica dos elementos da oralidade, suas origens e seus mais diversos significados. Fonseca (2000, p. 64) em Brasil Afro-brasileiro, observa que “A cultura negra é lugar das encruzilhadas”. Desse cruzamento e dessa fusão é que surgem novos saberes, que fluem novas linguagens e que disseminam as culturas negras. Mia Couto aproveita-se dessas fronteiras e encruzilhadas, valorizando os conhecimentos e os saberes moçambicanos, insistindo na tensão entre oralidade e escrita naquilo que pode ser um “projeto de definição do estatuto nacional de uma literatura emergente” (FONSECA, 2008,p.13).