Os focos de resistência face ao poder disciplinar: afetos e sociabilidades nos discursos de uma apenada
Mulheres apenadas. Afetividades. Sexualidades. Normalização. Resistência.
A dissertação tem como temática a construção de subjetividades uma mulher que se encontra em regime carcerário na cidade de Natal/RN. Como questões norteadoras da pesquisa, perguntamos: Como se traduzem, na materialidade linguístico-discursiva, focos de resistência de uma apenada face aos dispositivos disciplinares reguladores de suas condutas, em específico condutas afetivas e sexuais no presídio? Como se entrelaçam as relações de poder e a constituição subjetividades da presidiária diante de práticas discursivas institucionalizadas? Objetiva-se: analisar na narrativa de uma apenada focos de resistência ao poder disciplinar na medida em que se envolve em relacionamentos afetivos e sexuais na instituição penal; investigar e problematizar formas de subjetivação de uma apenada mediante os efeitos de poder que transitam no Complexo Penal Dr. João Chaves; e examinar de que maneira a presidiária, inserida em um regime de normalização, se utiliza de estratégias discursivas a partir das suas práticas sócio-afetivas para constituir suas subjetividades. A pesquisa se inscreve na área de estudos da Linguística Aplicada, é de natureza qualitativa de abordagem sócio-histórica, com procedimentos etnográficos. Nesse tipo de pesquisa, busca-se apreender o sujeito na sua singularidade, mas com sua inserção relacionada ao contexto histórico-social (FREITAS, 2003). Como aporte teórico, articularemos conceitos foucaultianos como relações de poder, normalização e focos de resistência (FOUCAULT, 2007) a fim de averiguarmos como as condutas propostas pelas práticas discursivas que circulam na instituição penal em questão agem sobre o corpo e sobre a própria vida da apenada. Os resultados desta dissertação demonstram que as subjetividades da apenada são produzidas pelas experiências que são constituídas por meio de focos de resistência face à coerção prisional. Isto é, a presidiária busca estratégias sócio-afetivas por meio de contatos inter-pessoais possibilitados pela visita social negando uma suposta posição de subalternidade ante as possíveis práticas de controle da instituição. Seus discursos estão na contramão de uma eternização do arbitrário (BOURDIEU, 2003), uma vez que seus posicionamentos apontam para uma desessencialização de verdades afetivo-sexuais estereotipadas.