É disso que se trata: análise funcionalista de clivadas com demonstrativos neutros
Focalização. Clivagem. Clivadas propriamente ditas. Pronome demonstrativo neutro. Linguística Funcional.
Nesta pesquisa, investigamos usos de estruturas clivadas propriamente ditas (CLIV) no Português Brasileiro, do tipo é (d)isso (de) que eu gosto, é (n)isto (em) que acredito e é (d)aquilo (de) que precisamos, em que se atribui foco a um pronome demonstrativo neutro (DEMNt) em função textual fórica e/ou dêitica. O objetivo geral consiste em analisar aspectos funcionais e formais concernentes ao uso dessas estruturas, de modo a explicitar e discutir: (i) o tipo semântico dos lexemas verbais mais frequentes nessas CLIV; (ii) o estabelecimento da referenciação do constituinte focal (CF) DEMNt e (iii) a alternância entre uso e não uso de preposição no constituinte focal, em função de complemento oblíquo. Para isso, fundamentamo-nos na Linguística Funcional de vertente norte-americana e aplicamos os princípios de iconicidade e de marcação (Givón, 1984, 1990, 1995) e de expressividade (Dubois; Votre, 1994). Consideramos, também, contribuições de estudos de outras correntes/perspectivas linguísticas sobre focalização e clivagem (Longhin, 1999; Dik, 1989; Braga, 1989), referenciação (Santos; Cavalcante, 2014) e classificação semântica verbal (Borba, 2002; Neves, 2011). Esta pesquisa é de natureza quali-quantitativa, o material empírico provém do Corpus do Português NOW (News On the Web) e compreende 851 ocorrências de CLIV em comentários e matérias de jornais e revistas publicados online. Nossa análise demonstrou que as CLIV estudadas possibilitam atribuição de foco para além do constituinte focal, via foricidade, a Codificadores de Conteúdo Focalizado (CodCF), e podem apresentar funções de ênfase, de suporte para reelaboração de referentes, de sumário e de finalização. Além disso, predomina nessas CLIV o uso de: (i) verbos classificados como de ‘estado’ (Borba, 2002) nucleando o SV da parte pressuposta, destacando-se o padrão [É DISSO QUE SE TRATA]; (ii) DEMNt ‘isso’ na retomada anafórica e híbrida de referentes distribuídos; e (iii) preposição no CF oblíquo, constituindo estratégia mais recorrente, mais marcada em termos givonianos e menos marcada expressivamente.