O QUE AINDA NÃO TEM FORMA ME PROTEGERÁ:
A LITERATURA E O DESAPARECIMENTO EM ROBERTO BOLAÑO
Roberto Bolaño; Desaparecimento; Literatura Latino-Americana; Estética e Política; Violência e Literatura.
O chileno Roberto Bolaño (1953-2003) é um dos nomes principais da literatura contemporânea. Autor de obras seminais como Detetives Selvagens (1998) e 2666 (2004), o chileno mobiliza em suas obras abordagens distintas (a partir da violência, do Mal e da sombra do político) do desaparecimento. O autor fez parte de uma geração que se notabilizou por trazer à literatura da América Latina novas propostas estéticas que buscavam se diferenciar das tendências do Boom dos anos 70. Em seus livros, tramas urbanas com personagens sobreviventes dos anos de chumbo no continente se mesclam com profecias apocalípticas sobre o desaparecimento dos corpos e da própria literatura (enquanto instituição e enquanto objeto estético). Nessa tese, a busca por compreender os aspectos desse desaparecimento passa pela procura de seu simbolismo, de seu papel político, de sua discussão contemporânea em um mundo que está em vias de desaparecer, e da própria construção de um universo estético que está desaparecendo, escrevendo a partir do próprio esgotamento. Essas formas simbólicas e éticas de enfrentar o desaparecimento ganham apoio teórico nas reflexões de Blanchot (2005) e Barthes (2005), mas também caminham pela discussão política e filosófica de Fisher (2021), Haraway (2009), Didi-Huberman (2020), e diversos outros autores que auxiliam na construção de uma arqueologia do desaparecimento, que é espelhada na obra dos dois autores enfocados. As ideias em torno desse desaparecimento ganham ressonância nas obras Amuleto (1999), Detetives Selvagens (1988) e 2666 (2006), mas também se espalham em toda a obra do escritor chileno.