SURDOS E A CONSTRUÇÃO DE SUAS IDENTIDADES ACADÊMICAS
Linguagem. Identidades acadêmicas. Surdos. Curso de Licenciatura em Letras-Libras/Língua Portuguesa como segunda língua para surdos.
A inauguração da graduação Letras-Libras no Brasil, realizada em 2006, marca o ingresso de sujeitos surdos sinalizadores em curso de nível superior no nosso país em volume nunca antes visto. Incentivada por programas federais de fomento e inspirada por universidades que o fizeram antes dela, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) abriu seu curso no ano de 2013, e hoje já conta com dez turmas formadas. Em uma mão do caminho traçado por esse curso até aqui, percebe-se que a presença surda no ensino superior imprime importantes traços nas universidades em que a licenciatura em questão acontece, uma vez que é impossível às instituições ficar alheias à cultura intrínseca à existência dos alunos e profissionais surdos nela atuantes. Na outra mão, para além de identidades profissionais, a vida acadêmica propicia aos surdos relações intersubjetivas e práticas sociais favoráveis à construção de identidades acadêmicas únicas, cerzidas entre experiências compartilhadas e vivências particulares exclusivas a cada um. A presente pesquisa tem por objetivo compreender como se constituem identidades acadêmicas de surdos participantes da ação de extensão “Ser Acadêmico”, os quais são alunos concluintes e ex-alunos do curso de Licenciatura em Letras-Libras/Língua Portuguesa como segunda língua para surdos da UFRN (CLLP/UFRN). Nosso corpus se constitui de enunciados concretos, sinalizados em Libras, durante a segunda aula do projeto, a respeito da vida acadêmica surda. Situamo-nos na fronteira porosa entre os terrenos da Linguística Aplicada (MOITA LOPES, 2006; KLEIMAN, 2013; PENNYCOOK, 2006; FABRÍCIO, 2017) e dos Estudos Surdos (SKLIAR, 2010; KARNOPP; KLEIN; LUNARDI-LAZZARIN, 2011; LADD, 2010, 2013; LANE, 1992; KUSTERS; DE MEULDER; O’BRIEN, 2016; MURRAY, 2016), tendo como lentes analíticas as noções teórico-filosóficas do Círculo de Bakhtin (BAKHTIN, 2010, 2016, 2017, 2018; VOLÓSHINOV, 2017, 2019; MEDVIÉDEV, 2012). Nesta altura da pesquisa, chama-nos a atenção o fato de que as múltiplas identidades acadêmicas surdas tecidas no CLLP/UFRN são costuradas na tensão entre fios discursivos sobre a Língua Portuguesa e a Libras, linguagens humanas consideradas por nós como signos ideológicos representativos de forças centrípetas e centrífugas, respectivamente, incidentes sobre toda a carreira estudantil dos sujeitos surdos.