Água viva: uma cosmovisão pela solidão
Literatura Brasileira. Clarice Lispector. Água Viva. Solidão. Discurso fragmentado.
Esta pesquisa possui como objeto de investigação a obra literária Água viva, de Clarice Lispector (1998a). Água viva é caracterizada por um discurso fragmentário e por um tom de inesperada improvisação, por não se encaixar nas concepções de gênero conhecidas. Dessa maneira, um dos principais aspectos da obra é a desconstrução (ou a reconstrução) das definições e dos limites dos gêneros literários tradicionais. No livro, sobressai-se o fluxo de consciência pela linguagem, apresentando-se uma cosmovisão, ou concepção de existência, em que se destaca o movimento da vida como algo incontrolável e imprevisível, aquém do controle do ser humano; mas, ao mesmo tempo, concebe-se a existência do sujeito como estritamente ligada à existência do outro, e à do mundo, como inseparáveis. Assim, neste trabalho, nosso objetivo é investigar como essa cosmovisão é esteticamente construída pelo discurso literário, pela estrutura da obra e pelas imagens utilizadas. Para fundamentar esta análise, consideramos as proposições de Martin Heidegger sobre as concepções de solidão e de angústia, principalmente no que diz respeito às suas obras Os conceitos fundamentais da metafísica: mundo, finitude, solidão (2011) e Ser e Tempo (2015), ressaltando-se conceitos como os de ser-no mundo e de ser-com-o-outro. Isso, porque é pela solidão que se cria o espaço para a narradora-protagonista da obra em questão olhar para si mesma e compreender-se – e, ao mesmo tempo, não se compreender - como indivíduo, mas também como parte de um todo, o que é expresso nas concepções de existência construídos pela obra, do ponto de vista estético.