ENSINO DA ESCRITA: análise crítica da imposição de um arbitrário cultural tornado suposto consenso
Ensino da escrita. Constituição do sujeito. Análise de Discurso. Generização.
Esta tese estuda produções textuais de alunos da última etapa do ensino fundamental em condição de concurso com o objetivo de analisar a relação entre o discurso sobre o ensino da escrita, entendido como o conjunto de metodologias didáticas previstas em documentos oficiais, e a constituição em sujeito do aluno-concorrente, concebido como efeito ideológico produzido pela inserção histórica deste em uma tradição didática. A partir da Análise de Discurso introduzida por Pêcheux (2014; 2015) e ampliada por Courtine (2014) e das discussões sobre educação, ensino e produção de texto propostas por Larossa (2014), Comenius (2001), Bourdieu e Passeron (1992), Apple (1979; 2001), Geraldi (1984; 1991), Gnerre (1992), Fabiano-Campos (2011) e Fairchild (2012), problematiza-se o ensino da escrita que toma os gêneros textuais/discursivos como objetos de ensino, uma vez que há indícios de que essa prática contemporânea nutre e se nutre de discursos que, reproduzindo concepções antigas, tornaram-se suposto consenso. Isso possibilitaria, frente às diretrizes pedagógicas oficiais, a emergência da generização, um didatismo que é igualmente atualidade (acontecimento discursivo) e sempre já dito (memória discursiva). A leitura de enunciados (PÊCHEUX, 2016) e de formulações, associando forma sintática e conteúdo léxico-semântico (COURTINE, 2014), cotejados de 43 (quarenta e três) redações escritas possibilita-nos interpretar, a partir da análise dos modos de escrita dos sujeitos-concorrentes, o funcionamento da formação discursiva neoliberal materializada em documentos oficiais. A análise dos textos permite que se identifique uma tendência de incorporação do controle técnico sobre o dizer do sujeito-concorrente, marcada pela sistematicidade e pela reintrodução, sob o rótulo da generização, de rituais de reprodução, um amálgama que contrasta com o dialogismo bakhtiniano. Em relação à constituição do sujeito, notam-se movimentos que indiciam certa aderência a temas do discurso neoliberal ao mesmo tempo em que há ocorrências de oscilações contrastivas que se aproximam de procedimentos de diferenciação, apontando uma tentativa de trabalho do sujeito-concorrente.