ENTRE PALAVRAS E SINAIS: A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA DE SURDOS ACADÊMICOS NA UFRN
Linguagem; Academia; Identidades; Surdos; Libras; Língua Portuguesa.
Situada na área de conhecimento da Linguística Aplicada, tenho por objetivo investigar a constituição identitária de sujeitos surdos formados no Curso de Licenciatura em Letras-Libras/Língua Portuguesa (CLLP) da UFRN. Os dados que analiso, enunciados concretos, em Libras, de três surdos, são provenientes da segunda aula do projeto de extensão intitulado “Ser Acadêmico”, realizado em 2021, voltado para alunos veteranos e ex-alunos do CLLP, com o intuito discutir a vida acadêmica e estudar como se constroem textos de gêneros discursivos acadêmicos. Realizamos a análise de tais enunciados tendo por referencial analítico as noções filosóficas do Círculo de Bakhtin sobre linguagem; e por referencial teórico a respeito do ser surdo e das construções identitárias no mundo de hoje, os Estudos Surdos e os Estudos Culturais. Na primeira etapa de nossa análise, em que tivemos por intuito identificar, nos relatos dos sujeitos sobre suas vivências acadêmicas, como são valoradas as práticas discursivas de ensino-aprendizagem de que participaram ao longo da vida, percebemos que (i) sobre suas experiências escolares, prevalece o discurso atinente às privações sofridas no que diz respeito à acessibilidade linguística; (ii) sobre suas experiências no ensino superior, chama a atenção o fato de que cada um dos três sujeitos destaca diferentes aspectos sobre a graduação em seu discurso: Nelson, atravessa temporalmente sua trajetória, narrando suas vivências de calouro a professor do curso que o formou; Rodrigo se detém sobre a experiência que teve na Iniciação Científica; Gladis, apresenta as diferenças entre a primeira e a segunda graduação que cursou (Pedagogia e CLLP, respectivamente); (iii) sobre a pós-graduação, os enunciados destacam a importância da Libras para o acesso a esse nível de ensino. No segundo momento da análise, nos debruçamos sobre os posicionamentos assumidos pelos sujeitos a respeito da Libras e da Língua Portuguesa em uma discussão ocorrida na aula. Na tensa dinâmica do jogo entre essas duas línguas, sobre a qual incidem forças centrípetas e centrífugas, fica evidente que, na comunidade acadêmica surda, convivem (i) a percepção de que, na história surda (individual e coletiva), a imposição da LP ao surdo foi/é símbolo de opressão da cultura ouvinte sobre a cultura surda; (ii) a consciência de que o domínio da LP por parte dos surdos pode ser fator importante para empoderamento do sujeito surdo; (iii) o reconhecimento de que o alcance da Libras na sociedade majoritariamente ouvinte e grafo-fonocêntrica ainda é restrito; e (iv) o desejo ativo de que a Libras seja considerada, de fato, pela academia, como linguagem legítima para a construção e publicização do conhecimento científico.