OS YOUTUBERS E A REPRESENTAÇÃO DO CERTO, ERRADO, ADEQUADO E INADEQUADO NO TRABALHO COM A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA EM SALA DE AULA
Ensino de Língua Portuguesa. Variação linguística. Livro didático.
Algumas das atuais discussões no ensino de Língua Portuguesa (LP) dizem respeito a como se deve lidar na escola com o fenômeno da variação linguística em sala de aula. No ano de 2010, por exemplo, houve uma explosão de falares fora dos círculos acadêmicos que envolveram a população no que respeita à viabilidade e as consequências no trato com a variação linguística no espaço escolar. O estopim dessa explosão foi o fato de que se considerava que o MEC (Ministério da Educação e Cultura) adotara um livro didático destinado à EJA (Educação de Jovens e Adultos) que anunciava ser “certo” ensinar “errado”, bastando o “erro” ser recorrente e estar sedimento em alguma comunidade linguística. O livro titula-se “Por uma vida melhor”, 2º volume da coleção “Viver, Aprender”, dos autores Heloísa Ramos et. al., e ficou à mercê de olhares diversos. No primeiro capítulo desse livro, discutia-se a questão da adequabilidade associada às modalidades (oral e escrita) e às possíveis variedades da língua (variedade culta, padrão, popular). A imprensa televisiva foi uma das grandes responsáveis em alardear que o MEC havia endossado a utilização, nas escolas, de um livro que permitia o ensino de padrões linguísticos que eram condenados pela gramática tradicional, mesmo que fosse recorrente na “boca” do povo. A querela foi lançada no Yotube e, aí, internautas, cujas identidades não podem ser descritas, manifestavam-se a favor ou contra a proposta do LD e, consequentemente ao MEC. Muitos se utilizavam de argumentos desenhados pela Sociolinguística; outros pela Gramática Tradicional. Foi, a partir dessas falas, que nasceu esta pesquisa. Interessou-nos o modo particular como a comunidade que não tinha formação em Linguística (ou parecia não ter, pelo que se percebia em seus comentários) entendia as noções de certo, erradas, adequadas e inadequadas, tão íntimas nos círculos acadêmicos. Nossas reflexões tomam como referência teórica os estudos sociolinguísticos sobre a questão da variação e ensino, considerando, especificamente, Bagno (2003, 2007), Antunes (2003, 2007), dentre outros, bem como estudiosos linguísticos como Milner (1987, 1989), etc. Não deixamos de lado, também, o estabelecimento de um diálogo com os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) que norteiam o ensino brasileiro e defendem o trabalho com a variação linguística em sala de aula e o próprio Livro Didático “Por Uma vida melhor”.