UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE A MEMÓRIA DE TRABALHO E O
DESENVOLVIMENTO DA LEITURA EM CRIANÇAS PARTICIPANTES DO PROJETO ACERTA
Memória de trabalho; aprendizagem de leitura; desenvolvimento da leitura; Provinha Brasil.
Este estudo longitudinal visa a investigar o desenvolvimento da memória de trabalho (BADDELEY e HITCH, 1974; DANEMAN e CARPENTER, 1980; ENGLE, 2004; BADDELEY, 2012; entre outros) e o desenvolvimento da leitura (CABRAL, 1986; FRITH, 1985; EHRI, 2005; DEHAENE, 2009, 2010, 2015; entre outros) em participantes do projeto ACERTA (Avaliação de Crianças em Risco de Transtorno de Aprendizagem), alunos do Ensino Fundamental I, matriculados em 6 escolas municipais de Natal-RN ao longo de 2014 a 2016. Para tanto, três perguntas de pesquisa nortearam este trabalho (1) Como a memória de trabalho está relacionada ao desenvolvimento da leitura das crianças participantes do estudo?; (2) De que forma a memória de trabalho (MT) pode predizer o desenvolvimento de leitura das crianças avaliadas? e, (3) De que forma a Provinha Brasil (PB) pode predizer o desenvolvimento de leitura das crianças avaliadas? Os 57 participantes foram submetidos à Provinha Brasil no ano de 2014 e realizaram atividades de avaliação de leitura e escrita e avaliações de MT (AWMA – Automated Working Memory Assessment) de 2014a 2016. Os resultados quantitativos obtidos através das correlações de Spearman para responder à primeira pergunta de pesquisa revelam que: (1) a MT verbal 2015 teve correlação significativa com a Provinha Brasil do grupo de alunos de alta capacidade de MT e com a atividade de cópia realizada por todos os alunos; e (2) a atividade de MT para não-palavras realizada tanto em 2015 quanto em 2016 obteve correlação significativa com a atividade de leitura de Palavras e Pseudopalavras, revelando semelhanças e diferenças entre tarefas designadas a medir o mesmo construto, porém com modos de apresentação de estímulos distintos. Em resposta à segunda pergunta, os resultados quantitativos obtidos por regressão linear revelam que a MT 2015 não foi capaz de predizer o desenvolvimento da leitura das crianças em nenhuma das quatro medidas propostas no ano de 2016, aspecto que não se alinha à hipótese de que a MT sozinha é capaz de prever o desenvolvimento da leitura. Ao contrário do previsto, os resultados apontam a memória de curto prazo como um melhor preditor da leitura entre os nossos participantes, no caso específico da atividade de cópia. Por fim, para responder à terceira pergunta de pesquisa, também através de regressão linear, a Provinha Brasil 2014 revelou-se um preditor ineficaz do desenvolvimento de leitura e escrita em 2015 e 2016, já que somente duas das oito atividades propostas foram preditas pela PB 2014. A discussão proposta pretende lançar luz sobre as variáveis que impactam o processo de aquisição da leitura, sob um ponto de vista neurocognitivo.