Perfil de imunoglobulinas e correlação de autoanticorpos em pacientes chagásicos crônicos portadores de diferentes formas clínicas
Trypanosoma cruzi, doença de Chagas humana, troponina T, miosina, autoanticorpos, patogenia.
Introdução: O dano miocárdico na doença de Chagas resulta tanto da ação parasitária quanto da resposta imune do hospedeiro humano. O mimetismo molecular entre proteínas do Trypanosoma cruzi e vários antígenos do hospedeiro tem sido amplamente descrito gerando células T CD8+ e autoanticorpos autorreativos. Entretanto, a geração dos autoanticorpos e seu papel na imunopatogenia da doença de Chagas ainda não têm sido elucidados, o que nos levou neste trabalho, avaliar a produção de anticorpos (IgG total e seus isotipos) anti-T. cruzi e proteínas cardíacas e, sua possível associação com as diferentes formas clínicas da doença de Chagas.
Métodos: A produção de IgG total e seus isotipos foi mensurada pelo método de ELISA, usando como antígenos as formas epimastigota e tripomastigota do T. cruzi e proteínas cardíacas humana (miosina e troponina T) no soro de pacientes com as formas clínicas indeterminada (n = 72), cardíaca (n = 47) e digestiva/mista (n=12) da doença de Chagas. As amostras de indivíduos não infectados foram usadas como controle. Os títulos de autoanticorpos foram correlacionados com parâmetros da função cardíaca obtidos por exames eletrocardiográficos, radiográficos e ecocardiográficos.
Resultados: Neste estudo foram inclusos 131 indivíduos sem diferença significativa relativa à idade ou sexo. Desses, 55% foram classificados na forma clínica indeterminada, 35,9% cardíaca e 9,1% como digestiva/mista. Os títulos de anticorpos anti-imunoglobulina G total (IgGt) específica para troponina T e miosina (p=0.0001) foram mais elevados em pacientes chagásicos portadores das formas clínicas indeterminada e cardíaca que nos indivíduos não-infectados. A produção de anticorpos anti-proteínas cardíacas nos pacientes chagásicos mostrou uma correlação negativa com a fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE). O agrupamento dos pacientes em produtores e não produtores de autoanticorpos e, a comparação dos títulos com a FEVE, revelou que nos pacientes produtores de autoanticorpos anti-troponina T (p=0.042) e miosina (p=0.013) a FEVE foi mais baixa do que os não produtores.
Conclusões: Estes resultados indicam que a produção de autoanticorpos anti-troponina T e miosina cardíaca provavelmente influencia a fração de ejeção do ventrículo esquerdo e pode estar relacionada à cardiomiopatia chagásica.