ESTADO NUTRICIONAL ANTROPOMÉTRICO, PERFIL LIPÍDICO E CONSUMO ALIMENTAR COMO FATORES DE RISCO PARA DOENÇA CARDIOVASCULAR EM ADOLESCENTES
Dislipidemias, obesidade, fatores de risco, ingestão de nutrientes, método de avaliação dietética, padrão dietético, doença cardiovascular.
As alterações do perfil lipídico e do excesso de peso em adolescentes, quando associados, sugerem uma progressão dos fatores de risco modificáveis para as doenças cardiovasculares (DCV). Além destes, os hábitos alimentares e de estilo de vida inadequados também tem sido considerados impactantes no desenvolvimento de doenças crônicas. Os objetivos do estudo foram: (1) estimar a prevalência das alterações do perfil lipídico e correlacionar com o índice de massa corporal (IMC), a circunferência da cintura (CC) e a razão cintura/altura (RCA) em adolescentes, considerando a maturação sexual; (2) conhecer as fontes de variância da dieta e o número de dias necessários para estimar a dieta habitual dos adolescentes e (3) descrever os padrões dietéticos e de estilo de vida dos adolescentes, a história familiar positiva de DCV e a idade e correlaciona-los com os padrões de risco para DCV, ajustados pela maturação sexual. Foi conduzido um estudo transversal com 432 adolescentes de escolas públicas municipais da cidade do Natal, RN, Brasil, com idade entre 10-19 anos. As dislipidemias foram avaliadas considerando o perfil lipídico, o índice de Castelli I (CT/HDL) e II (LDL/HDL) e o colesterol não-HDL. Os indicadores antropométricos incluídos foram o IMC, a CC e a RCA. A ingestão de energia, dos macronutrientes inclusive a fibra, dos ácidos graxos e do colesterol foi estimada a partir de dois recordatórios de 24h (R24h). As variáveis do perfil lipídico, antropométricas e clínicas foram usadas nos modelos de correlação de Pearson e de regressão linear multivariada, considerando a maturação sexual. A razão de variância da dieta foi calculada entre o componente da variância intrapessoal e interpessoal, determinada pela análise de variância (ANOVA). A definição do número de dias para a estimativa da ingestão habitual de cada nutriente foi obtida considerando a correlação hipotética de (r) ≥ 0,9, entre a ingestão de nutrientes verdadeira e a observada. Utilizou-se a análise de componentes principais como método de extração dos fatores que representaram as variáveis dependentes denominadas de risco cardiovascular e obtido a partir do perfil lipídico, do índice de Castelli I e II, do colesterol não-HDL, do IMC, daCC e da RCA. Os padrões dietéticos e do estilo de vida foram obtidos a partir das variáveis independentes, com base nos nutrientes consumidos e na atividade física semanal. No estudo da Análise dos componentes principais (ACP) foram investigadas as associações entre os padrões de risco cardiovascular com os padrões dietéticos e do estilo de vida, idade e com a história familiar positiva de DCV, por meio da análise bivariada e regressão logística múltipla e ajuste pela maturação sexual. O baixo HDL-c foi à dislipidemia mais prevalente (50,5%) nos adolescentes. Foram verificadas correlações significantes entre a hipercolesterolemia e a história familiar positiva de DCV (r=0,19, p<0,01); e a hipertrigliceridemia com o IMC (r=0,30, p<0,01), com a CC (r=0,32, p<0,01) e com a RCQ (r=0,33, p<0,01). O modelo linear construído com a maturação sexual, idade e IMC explicou cerca de 1 – 10,4% da variação dos valores do perfil lipídico. As fontes de variância interpessoal foram maiores para todos os nutrientes, em ambos os sexos. As razões de variâncias foram < 1 para todos os nutrientes sendo mais elevadas no sexo feminino. Os resultados sugerem que para avaliar a dieta destes adolescentes com maior precisão, 2 dias de R24h seriam suficientes para consumo de energia, carboidratos, fibra, ácidos graxos saturados e monoinsaturados. Diferentemente, 3 dias seria o recomendado para a proteína, os ácidos graxos poliinsaturados e o colesterol. Dois fatores denominados de risco cardiovascular foram extraídos na ACP, referentes às variáveis dependentes: o “padrão perfil lipídico” (HDL-C e colesterol não-HDL) e o “padrão indicador antropométrico” (IMC, CC, RCA), com um poder de explicação de 75% da variância dos dados originais. Os fatores representativos das variáveis independentes originaram dois padrões dietéticos, “padrão dieta aterogênica” e “padrão proteína animal”; e um relativo ao estilo de vida, “padrão equilíbrio energético”. Em conjunto, estes padrões fornecem um poder de explicação de 67%. Feito o ajuste pela maturação sexual, permaneceram significativas no sexo masculino as seguintes variáveis: as associações entre ser púbere e o padrão indicador antropométrico (OR=3,32, IC% 1,34-8,17); e entre a história familiar de DCV e o padrão perfil lipídico (OR=2,62, IC% 1,20-5,72). No sexo feminino, identificaram-se associações entre a idade após a primeira fase da puberdade com os padrões indicadores antropométricos (OR=3,59, IC% 1,58-8,17) e do perfil lipídico (OR=0,33, IC% 0,15-0,75).Conclusões: O baixo HDL-c foi a mais prevalente dislipidemia independente do sexo e do estado nutricional dos adolescentes. A hipercolesterolemia teve influência da história familiar positiva de DCV e da maturação sexual; por sua vez, a hipertrigliceridemia foi fortemente associada aos indicadores antropométricos. A variância interpessoal da dieta foi a maior para todos os nutrientes. Tal fato repercutiu em uma razão de variância menor que 1 e consequentemente em um menor número de dias necessários para se estimar a dieta habitual dos adolescentes, considerando o sexo. Os dois padrões dietéticos extraídos foram considerados não saudáveis e o padrão estilo de vida como saudável. As associações encontradas foram entre os padrões de risco para DCV com a idade e a história familiar positiva de DCV nos adolescentes estudados.