O enigma ausente: uma leitura da ruptura com Deus na poesia de Antônio Pinto de Medeiros
Antônio Pinto de Medeiros; Poesia religiosa brasileira, Ateísmo, Mística; Geração de 45
Antônio Pinto de Medeiros, embora amazonense de nascimento, foi um poeta, editor e crítico literário que desenvolveu suas atividades intelectuais no Rio Grande do Norte. De vida tão enigmática quanto sua poesia, publicou apenas duas obras, a saber Um poeta à toa (1949) e Rio do vento (1951), as quais ocupam um lugar singular na produção poética brasileira do período, que àquela altura se organizava no pouco abrangente conceito da Geração de 45. No entanto, a obra medeiriana também apresenta uma relação com a poesia dos anos 1930, sobretudo com as produções de Jorge de Lima e Murilo Mendes, mas deles se diferenciando radicalmente, ao constituir uma poética em ruptura com Deus, temática norteadora da nossa pesquisa. Partindo de um diálogo entre literatura e teologia, mas tendo no aparato teórico da literatura e, sobretudo, da poesia o principal norteador de nossas análises, nossa dissertação se divide em quatro capítulos. No primeiro, amparados no conceito de ateísmo de Comte-Sponville (2007), analisaremos como essa ruptura é trabalhada nos poemas. No segundo capítulo, nossa atenção se voltará ao ciclo enigmático medeiriano, a partir do qual buscaremos empreender uma leitura que o relacione à presença do mistério como elemento da mitologia cristã, além de situá-lo, a partir de autores como Cirlot (2012), Losso (2007, 2020, 2022) e Melo Neto (1998), em relação à tradição delirante e visionária da moderna poesia ocidental. No terceiro capítulo, em diálogo com Eliade (1992) e Otto (2024), nossa leitura se aterá à profanação dos símbolos e dos ritos do cristianismo de vertente católica. Apesar da ruptura com Deus ser a tônica dessa poesia, é interessante notarmos que o poeta tem um olhar empático para os marginalizados sociais e, em especial, as mulheres, aspecto que, a partir de Comte-Sponville (2007), Eliade (1992) e Frye e Macpherson (2023), discutiremos em nosso último capítulo.