MOBILIDADES NARRATIVAS E REINSCRIÇÕES IDENTITÁRIAS: DESLOCAMENTOS DE RÍSIA E DE KEHINDE EM AS MULHERES DE TIJUCOPAPO, DE MARILENE FELINTO, E UM DEFEITO DE COR, DE ANA MARIA GONÇALVES
Literatura brasileira. Um defeito de cor. As mulheres de Tijucopapo. Deslocamentos. Reconstrução identitária.
Nos romances brasileiros As mulheres de Tijucopapo (1982), de Marilene Felinto, e Um defeito de cor (2006), de Ana Maria Gonçalves, desenham-se as trajetórias das protagonistas Rísia e Kehinde, respectivamente. Suas vozes narrativas emergem em diálogo constante com experiências de perda, desenraizamento e resistência. Esta pesquisa tem como objetivo analisar os múltiplos deslocamentos que estruturam a vida dessas personagens, entendidos não apenas como movimentos geográficos, mas sobretudo como processos existenciais e corporais atravessados por violência histórica e pela contínua tentativa de reinscrição identitária. Fundamentamos a nossa análise, dentre outros autores, em Esposito (2016), que problematiza a dicotomia entre pessoa e coisa e propõe o corpo como categoria crítica; em Fanon (1952/2020), que evidencia a dificuldade de construir um esquema corporal próprio sob condições de dominação racial e colonial; e em Lorde (1984/2020), que aponta a transformação do silêncio em linguagem e ação como caminho de agenciamento próprio. A partir dessa análise, observa-se que as protagonistas extrapolam os deslocamentos compulsórios e, por meio de desejos subjetivos de busca, apropriam-se de deslocamentos voluntários, criando novos pertencimentos e configurando trajetórias de agência e reinvenção identitária.