Eternamente náufraga: das águas e das memórias em Poemas da recordação e outros movimentos, de Conceição Evaristo
Poemas da recordação e outros movimentos; Conceição Evaristo; água; memória; poesia negra-feminina.
A literatura, enquanto expressão artística e cultural, emerge como mais um espaço de resistência para fazer-se ouvir e para dizer-se diante do silenciamento e apagamento histórico, quando relacionado ao povo negro brasileiro. A poesia, que expressa subjetividades, de maneira consciente ou não, revela, muitas vezes, aspectos dessa memória desconsiderada e a constrói a partir de elementos simbólicos que desvelam e complexificam questões que envolvem o nosso imaginário. A escrita diaspórica e a estética da Escrevivência, imbuída do aspecto particular do lugar de onde se fala e se escreve, remonta caminhos do passado que fluem para o contexto atual, provocando e incitando movimentos de transformação. Numa correnteza que direciona para subjetividades da memória, esta dissertação consiste em investigar e analisar a coletânea Poemas da recordação e outros movimentos (2017), de Conceição Evaristo, a partir de sua expressiva relação com simbologias da água. Para tanto, propõe-se, através de uma pesquisa bibliográfica, de cunho analítico-interpretativa, analisar os poemas da referida obra, a partir de livros, artigos e outras fontes de autores que versam sobre a simbologia da água, destacando indícios de sua relação com a construção da ideia de memória, bem como sobre as questões sociais atinentes a eles, sob a perspectiva dos estudos decoloniais em diálogo com a crítica literária. A pesquisa desenvolvida debruça-se sobre os aspectos linguísticos e estéticos que a autora lança mão para construir imagens relacionadas à memória do povo negro brasileiro e as questões que se busca responder, através desta análise, são: em que medida a simbologia da água é utilizada na construção da ideia de memória apresentada na obra? E que recursos linguísticos e estéticos a autora utiliza para nos despertar esta percepção? Na leitura deste e de tantos outros aspectos abordados na obra, é possível observar a simbologia da água como recorrente na construção da ideia de memória, de sofrimento, mas também de esperança e movimento.