Inscrever a existência lésbica: um olhar sobre os romances Controle e Corpo Desfeito
Palavras-chave: Romance brasileiro contemporâneo; lesbianidades; literatura lésbica; Natalia Borges Polesso; Jarid Arraes.
Esta tese propõe analisar a inscrição das lesbianidades na literatura brasileira contemporânea do século XXI, tomando como corpus os romances Controle (2019), de Natalia Borges Polesso, e Corpo desfeito (2022), de Jarid Arraes. O estudo parte do reconhecimento do apagamento histórico das existências lésbicas na produção literária nacional e da necessidade de reinscrevê-las como categoria estética, política e histórica. Para tanto, ancora-se nos aportes teóricos de Adrienne Rich (1980 2010), em especial sua crítica à heterossexualidade compulsória e sua proposição da tradição lésbica, bem como em autoras feministas que discutem marginalização, resistência e memória coletiva das dissidências sexuais. A pesquisa organiza-se em duas partes: a primeira estabelece um panorama crítico e conceitual, discutindo o que se compreende por literatura lésbica no Brasil, mapeando a presença (ou ausência) das lesbianidades no romance contemporâneo e revisando pesquisas pré-existentes; a segunda parte dedica-se à análise das obras selecionadas, com atenção à construção das personagens, às estruturas narrativas, às marcas da violência e à potência emancipatória do amor e da paixão. Metodologicamente, a investigação vale-se da análise do discurso bakhtiniana, compreendida aqui como ferramenta analítica que permite articular texto literário e contexto histórico-social, revelando os modos como as narrativas de Polesso e Arraes se inscrevem em redes de sentido que desestabilizam a continuidade heteronormativa. Defende-se, assim, a tese de que a literatura lésbica, entendida como prática estética que rompe com a lógica da norma heterossexual, não apenas amplia as representações das lesbianidades no romance brasileiro contemporâneo, mas também instaura novas possibilidades de memória coletiva, resistência política e invenção de futuros dissidentes.