Ironia e baixo corporal: As tessituras das linhas eróticas de Nei Leandro de Castro.
Nei Leandro de Castro. Baixo Corporal. Ironia. Erotismo. Intertextualidade.
A presente pesquisa tem como objetivo analisar o livro de contos Pássaro sem sono (2013), de Nei Leandro de Castro (1940 –), investigando a presença da ironia, do erotismo e do baixo corporal como desdobramentos da intertextualidade que atravessa a obra, articulada com textos pertencentes ao cânone literário ocidental. Busca-se, ainda, examinar a tensão entre o sagrado e o profano como um elemento de criticidade frente ao conservadorismo cristão. Partiu-se do pressuposto de que tal contraponto se manifesta como um diálogo não celebrativo, em que duas vozes distintas e dissonantes, representando o passado e o presente, evidenciam o destronamento de vozes, traço característico da literatura brasileira contemporânea (Perrone-Moisés, 2016). Com base na concepção de dialogismo desenvolvida por Bakhtin (1997) e nas teorizações sobre a intertextualidade propostas por Kristeva (2012) e Carvalhal (2003), a pesquisa fundamentou-se no entendimento de que a citação de um autor por outro configura, simultaneamente, um gesto de filiação ao passado cultural e literário e de exercício crítico sobre ele, contribuindo para a consolidação e transformação do sistema literário brasileiro. No que se refere às implicações simbólicas que emergem dessa dinâmica, adotou-se as sistematizações teóricas e críticas de autores como Mircea Eliade (2018) para a discussão da profanação e sua relação dialética com o sagrado. O conceito de baixo corporal é explorado à luz das reflexões de Bakhtin (2010), enquanto que a análise da ironia encontra respaldo nos trabalhos de Brait (2005), Hutcheon (2000) e Muecke (1995). As reflexões sobre o erótico têm como fundamentos teóricos os escritos de Octavio Paz (1994) e Georges Bataille (2004). Considerando-se que os contos analisados integram o corpus da literatura potiguar contemporânea, esta investigação procurou contribuir para o aprofundamento das discussões em torno das tradições culturais locais e sua inserção no contexto mais amplo da literatura brasileira. Constatou-se, ao longo da análise, a riqueza literária da obra leandrina, marcada pelo uso criativo de elementos intertextuais, irônicos, eróticos e grotescos, constituindo uma crítica contundente aos discursos normativos sociais.