SEM SAÍDA: A IMPOSSIBILIDADE DA FICÇÃO E A NECESSIDADE DO REAL EM QUATRO-OLHOS, DE RENATO POMPEU
Ditadura civil-militar; Quatro-Olhos; Renato Pompeu; Metaficção; Romance autobiográfico
Na literatura moderna é cada vez mais recorrente o autoquestionamento literário e a presença de marcas autobiográficas no corpo da narrativa. Partindo dessa percepção, este trabalho tem por objetivo analisar o romance Quatro-Olhos (1976), de Renato Pompeu, observando como nele se manifestam esses dois elementos aparentemente distintos. Por um lado, a metaficção que desvela os bastidores da própria obra, serve para reforçar as impossibilidades que incapacitam a narrativa de se concluir; por outro, os traços autobiográficos, profundamente fincados no contexto sociopolítico, evidenciam uma profunda necessidade de escrever. É justamente a partir desse ponto de conflito entre necessidade de ficcionalizar e impossibilidade de fazê-lo que o romance de Renato Pompeu se constrói, representando os dilemas e dificuldades que permearam a escrita ficcional no contexto da ditadura civil-militar. Para desenvolver nossa análise, buscamos ressaltar os pontos de relação entre a estrutura da obra e o contexto social da época, nos ancorando nos estudos de Gustavo Bernardo (2010), Gérard Genette (2003), Lucien Dällenbach (1979), Philippe Lejeune (2014), Isaías Pessotti (1999), entre outros teóricos.