MEMÓRIAS DE INFÂNCIA E LEITURAS: LETRAMENTOS E AUTOBIOGRAFIA NO PROJETO DE ESCRITA LITERÁRIA DE BARTOLOMEU CAMPOS QUEIRÓS
Bartolomeu Campos Queirós; letramento; memórias; autobiografia
O presente trabalho tem como objetivo estudar, ainda que parcialmente, a obra de Bartolomeu Campos de Queirós, especialmente as narrativas que tratam da infância do escritor, a saber: Indez; Por parte de pai; e Ler, escrever e fazer conta de cabeça, as quais relatam fatos significativos da vida do autor — sob a ótica dele próprio. Os três livros podem ser considerados um texto único, dadas as interseções entre eles — fatos que são citados em uma das narrativas — e recuperadas em outra. A “trilogia” expõe a infância como um tempo de alegria, mas também como uma fase da vida intensamente permeada de dúvidas, temores e inquietações.Temas como folclore, tradições do interior de Minas Gerais e acontecimentos triviais do cotidiano são matéria de Indez, o primeiro dos três livros da série, título que alude a um ovo “falso”, costumeiramente colocado nos ninhos como um expediente para incentivar a chegada de outros ovos. Assim, a narrativa funciona como um ponto de partida para a tarefa de recuperar as memórias de infância de Bartolomeu Campos de Queirós e transpô-las para a escrita. Paralelamente às questões de memória, abordaremos ainda a temática do letramento literário, partindo de uma visão mais panorâmica e procurando chegar a uma descrição de como aconteceu a aquisição do letramento literário em Bartolomeu, destacando as muitas particularidades neste percurso. Pretendemos identificar marcas em sua literatura decorrentes desse processo, como sendo a produção literária do autor fruto de experiências vividas, sobretudo no convívio junto ao avô Joaquim, retratado em Por parte de pai, bem como de sua sensibilidade e vocação poética, numa necessidade quase premente de escrever que tem por intuito amenizar uma dor constante. Algumas dessas experiências escolares encontram lugar em Ler, escrever e fazer conta de cabeça.Nesse contexto de letramento, é importante considerar ainda o caráter autobiográfico presente na obra de Queirós, que culmina numa espécie de “autodidatismo” literário, o que torna a escrita do autor mineiro particularmente interessante e encantadora, impregnada de emoção.