Avaliação da instabilidade do genoma em crianças com fendas lábiopalatinas não-sindrômicas
Fenda lábio palatina, micronúcleo, instabilidade do genoma, ácido fólico, polimorfismo.
As fendas lábiopalatinas não sindrômicas (FL/PNS) são defeitos congênitos comuns em humanos, caracterizadas pelo desenvolvimento incompleto de estruturas que separam a cavidade nasal da cavidade oral, e são causadas devido a uma interação entre fatores genéticos e ambientais. Dados obtidos de estudos de caso-controle e intervenção dietética indicam que a suplementação materna com multivitaminas contendo ácido fólico previne o surgimento das fissuras orais. É conhecido que o ácido fólico participa de funções celulares essenciais, como a síntese de nucleotídeos para o reparo do DNA, as quais contribuem para a proteção da integridade do genoma contra eventos de danos gerados por fatores endógenos e/ou exógenos. Inclusive, estudos revelam que a deficiência desta vitamina aumenta a formação de micronúcleos, que são estruturas oriundas de eventos aneugênicos e/ou clastogênicos. Além disso, a biodisponibilidade deste micronutriente é modulada pelos polimorfismos genéticos associados ao metabolismo do ácido fólico, comprometendo o desempenho das funções de estabilidade do genoma, e portanto, estão sendo associados com o desenvolvimento de vários distúrbios, dentre eles as fissuras orais. A partir deste contexto, foi conduzido um estudo transversal do tipo caso-controle não pareado com o objetivo de avaliar a frequência de biomarcadores de instabilidade do genoma, sua relação com polimorfismos das enzimas do metabolismo do folato, e se essas variáveis estão associadas com o desenvolvimento das FL/PNS em crianças do Rio Grande do Norte, Brasil.
Assim, 48 pacientes fissurados e 18 crianças controles foram recrutadas, respectivamente, no Hospital de Pediatria Professor Heriberto Ferreira Bezerra (HOSPED)/UFRN e em escolas estaduais da cidade de Natal, RN. Com o devido consentimento dos participantes, realizou-se uma entrevista com os responsáveis para obtenção de dados epidemiológicos, como também procedeu-se a coleta sanguínea das crianças para a realização dos testes. Foi executado o ensaio do micronúcleo com bloqueio da citocinese (CBMN) para calcular a frequencia de micronúcleos (MN), entre outros marcadores citogenéticos. Como também, a partir da extração do DNA genômico, avaliou-se os polimorfismos da metileno tetrahidrofolato redutase C677T e A1298C, metionina sintase A2756G, metionina sintase redutase A66G e do receptor de folato reduzido A80G pela técnica de reação em cadeia da polimerase associada ao polimorfismo de tamanho do fragmento de restrição (PCR-RFLP).
As crianças portadoras de FL/PNS apresentaram maior frequência basal de MN, além de um aumento nas Pontes Nucleoplasmáticas (PN) e nos Brotos Nucleares (BN) quando comparadas com as frequências observadas no grupo de crianças controle (p < 0,001). Além disso, nenhum dos polimorfismos avaliados modificou significativamente a frequência destes biomarcadores. Adicionalmente, o MN foi uma variável significativa (p = 0.043) para a predição do fenótipo fenda no modelo de regressão logística binária. Portanto, a instabilidade do genoma observada nas crianças com fissuras orofaciais sugere que os eventos genotóxicos, em particular os que promovem quebras na dupla fita do DNA, originando micronúcleos, representam fatores relevantes no desenvolvimento das fendas lábio palatinas não-sindrômicas.