ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DO TRANSPLANTE DE CELÚLAS-TRONCO HEMATOPOÉTICAS EM UM SERVIÇO DE REFERêNCIA NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
Transplante de Células-Tronco Hematopoéticas, Transplante de Medula Óssea, Epidemiologia, Assistência à Saúde.
O Transplante de Células-Tronco Hematopoéticas (TCTH) tem sido utilizado como terapia alternativa e eficaz para pacientes com doenças oncológicas, hematológicas ou imunológicas, malignas ou não, herdadas ou adquiridas. O TCTH pode ocorrer por meio do transplante autólogo, no qual as Células Progenitoras Hematopoéticas (CPH) são coletadas de sangue periférico ou da medula óssea do próprio paciente; do alogênico, para o qual o doador será aparentado ou não, com Human Leukocyte Antigens (HLA) compatível e as CPH provenientes de sangue periférico, medula óssea, sangue de cordão umbilical ou placentário; ou do singênico, quando o doador for gêmeo idêntico. Objetivou-se caracterizar o perfil epidemiológico dos pacientes que realizaram TCTH em um serviço de referência no estado do Rio Grande do Norte e estimar a sobrevida global dos pacientes transplantados. Trata de um estudo do tipo coorte retrospectiva, com abordagem quantitativa, descritivo e analítico realizado mediante coleta de dados em prontuários de pacientes que realizaram TCTH em um serviço de referência no estado do Rio Grande do Norte (RN) entre janeiro de 2008 e dezembro de 2015.Os dados foram coletados entre os meses de março a setembro de 2016 no Serviço de Arquivo Médico e Estatística (SAME), e compreendeu a análise de prontuários registrados de 272 pacientes que se submeteram ao TCTH no serviço em questão. Foram excluídos da amostra 11 prontuários por não terem sido localizados. Para a coleta dos dados foi utilizado um instrumento que abordou os dados sociodemográficos e clínicos dos pacientes. Os dados coletados foram organizados em planilha do programa Microsoft Excel® 2010 para procedimentos de análises descritivas e inferenciais. Para análise descritiva dos dados foi utilizado o programa Epi Info 2002, versão 3.5.2. Para descrição da amostra, foram construídas tabelas que contêm as frequências absolutas e relativas por sexo e total, médias e desvios-padrão. Para cálculo da probabilidade de associação entre as características analisadas e o sexo foram utilizados os testes do qui-quadrado de tendência, de Fisher e o de Mann Whitney, de acordo com cada caso. Os cálculos de sobrevida foram realizados pelo método de Kaplan-Meier, quando foi considerado o marco inicial de entrada do paciente no estudo a data de realização do TCTH e final o último evento: óbito, abandono ou acompanhamento no momento da coleta de dados. Para comparação das sobrevidas por variáveis elencadas foi utilizado o método estatístico de Log Rank. Os cálculos de sobrevida foram realizados com uso do software SPSS (Statistic Package for Social Sciences) versão 22.0. O nível de significância adotado foi de 0,05. O Protocolo de Pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisas (CEP) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), de acordo com a Resolução nº. 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) do Ministério da Saúde, a qual trata da pesquisa com seres humanos, para avaliação dos seus aspectos éticos e metodológicos. O mesmo foi aprovado em seus aspectos éticos e metodológicos em 01 de julho de 2015, sob o parecer 1.132.720 e CAAE: 46202715.7.0000.5537. A partir da análise dos dados foi possível observar que dos 272 pacientes, 53,3% eram do sexo masculino, 46,7% casados, com idade média de 38,7 anos, 78,3% residiam no RN e 15% eram estudantes. Em relação à situação junto ao serviço TCTH, 67,6% haviam finalizado o tratamento, o tempo médio de acompanhamento foi de sete meses, o tempo médio entre o início do acompanhamento até o TCTH foi de dois meses e a sobrevida global foi em média de quatro meses. Quanto ao diagnóstico que levou ao TCTH, 23,5% dos pacientes apresentou o Mieloma múltiplo e as terapias mais utilizadas foram antineoplásicos (100,0%), antibióticos (96,7%), antieméticos (97%), antifúngicos (94,8%), antimicrobianos (94,1%), inibidores da bomba de prótons/antiulcerosos (94,4%), antivirais (91,5%), aminoácidos (84,9%), analgésicos/antitérmicos (86,4%), anti-histamínicos (86,4%), corticosteroides (86%) e hemoterapia (84,5%). Entre as comorbidades/toxicidades que mais ocorreram estão as gastroenterológicas (93%), a hipertermia (68%), as cardiovasculares (53,7%), as hematológicas (48,1%) e as respiratórias (47,8%). No que concerne ao tipo de transplante, o alogênico foi realizado em 54,8% dos pacientes, a fonte de CPH mais utilizada foi o sangue periférico (77,9%) e dentre os transplantes alogênicos o aparentado foi realizado em 71,8% dos casos. Dentre todos os pacientes, 9,9% realizaram mais de um TCTH e 4% apresentaram a Doença do Enxerto Contra Hospedeiro (DECH). Com relação às causas de mortes o choque séptico foi constatado em 5,5% dos casos, seguido por sepse (4,8%), falência de múltiplos órgãos (4,8%) e infecção pulmonar (4%). Os dados apresentados demonstraram o perfil epidemiológico dos pacientes tratados com TCTH em uma instituição de referência do RN, que certamente servirão de subsídio para a tomada de decisão no tocante aos cuidados prestados no contexto do TCTH. Portanto, considera-se a importância da realização de outros estudos sobre a temática com o objetivo de traçar os diferentes perfis demográfico e epidemiológico das regiões brasileiras no que se refere ao TCTH como terapêutica.