A JUREMA SAGRADA DE MARIA DO SALGADINHO: REPRESENTAÇÕES DO CATIMBÓ NO SERTÃO DO SERIDÓ POTIGUAR
Religiosidade. Crenças afro-indígena. Jurema Sagrada. Umbanda.
O texto analisa o trabalho da Jurema Sagrada realizado por Maria do Salgadinho (Maria Moreira da Silva, 1933-2017), entre os anos de 1952 a 2016, no contexto das religiosidades afro-ameríndias no Seridó Potiguar. A pesquisa parte da premissa de haver em suas práticas traços de antigos rituais que abrange as culturas negra e indígena. Sobretudo os povos genericamente chamados de Tapuias (Tarairiu), que viviam pelo sertão norte-rio-grandense. Mediante a gestualidade, a ritualística e o constante uso da fumaça, das folhas e da bebida da jurema, acredito na aproximação de sua ritualística com o culto aos ancestrais indígenas. Questiono: Em que medida a Jurema Sagrada de Maria do Salgadinho incorpora elementos das práticas juremeiras ancestrais? Para nortear as discussões, conto com teóricos como Ronaldo Vainfas (1995), que contribui para rever os efeitos da presença europeia na América quinhentista; Darcy Ribeiro (1995), que aborda a formação do povo “brasileiro”; Cristina Pompa (2001), tratando da diversidade indígena e a utilização da “religião como tradução”; além de Mircea Eliade (2010), Sandro Guimarães Salles (2010), Luiz Assunção (2010) entre outros estudiosos que tratam da problemática em questão. Assim, compreendo ser relevante a aproximação entre academia e as micro-histórias, possibilitando narrativas como a da religiosa sertaneja Maria do Salgadinho, pois estas movimentam outras centralidades e promovem através de tenções, negociações e acomodações, mudanças significativas no espaço e na vida de pessoas que se permitem vivenciar experiências profundas em qualquer âmbito, incluindo espiritual. Este foi o caso dessa mulher, mestiça, de origem rural, que participou da história do seu lugar por meio de sua religiosidade, forjada nas brenhas do Sertão.