O SERTÃO OBNUBILADO: ARARIPE JÚNIOR E A PRODUÇÃO DO SERTÃO NORTISTA NA LITERATURA
BRASILEIRA (XIX-XX).
Sertão; Literatura; Araripe Júnior; Obnubilação brasílica
Esta dissertação tem como objeto o sertão na literatura brasileira do século XIX, na obra do escritor e crítico literário Tristão de Alencar Araripe Júnior. Filho de uma das famílias tradicionais do Norte, primo do escritor José de Alencar, Araripe Júnior teve formação em advocacia, pela Faculdade de Direito do Recife, destacando-se como crítico literário e, com menos sucesso, como escritor de romances. No Ceará, participou ativamente no debate intelectual ao lado de Capistrano de Abreu e Raimundo Antônio da Rocha Lima, nas reuniões da Academia Francesa e posteriormente na Escola Popular. No Rio de Janeiro, ao lado de Sílvio Romero e José Veríssimo, formaram a trindade crítica da época naturalista no Brasil. Foi membro da Academia Brasileira de Letras, membro do Instituto Histórico do Ceará e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro. Apesar disso, sua obra recebeu limitada atenção em trabalhos acadêmicos, fora da área literária, principalmente no tocante à temática do sertão. Nesse sentido, procuramos a partir de dois textos do escritor, O Retirante: scenas da seca de 1845 (1877) e O Reino Encantado: crônica sebastianista (1878) compreender como o autor constrói na sua escrita uma ideia de sertão. Na sua vasta produção crítica, Araripe Jr., criou o conceito de obnubilação brasílica, termo utilizado pelo autor para explicar o processo de adaptação do homem europeu ao meio tropical brasileiro e à formação da brasilidade. Nosso objetivo é compreender os caminhos por meio dos quais se produziu, no âmbito do discurso literário brasileiro do século XIX e nos escritos de Araripe Júnior o sertão do norte. Tentar compreender as práticas discursivas sobre os sertões na produção de Araripe Júnior passa pela procura de relações de poder e de saber que produziram estas imagens e estes enunciados, que inventaram o sertão nortista. Para tal, estabelecemos um diálogo teórico com Pierre Bourdieu e Michel Foucault para tratar da relação das práticas discursivas do autor com a produção de uma dada visão do sertão do Norte na literatura oitocentista brasileira.
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