“QUEM ME VALE É REI TUPÃ E MARIA SALOMÉ”: AS REPRESENTAÇÕES SERTANEJAS DA JUREMA SAGRADA NO FILME SERIDOENSE BOI DE PRATA (1981)
Boi de Prata; Caicó; Jurema Sagrada; Representações; Sertão.
Este trabalho analisa o filme Boi de Prata (1981) sob a perspectiva da Jurema Sagrada como norteadora do desfecho da trama. O filme, dirigido por Carlos Augusto Ribeiro Júnior, foi produzido nos anos finais da década de 1970, tendo sido gravado no município de Caicó/RN, com apoio e participação da população local. Na trama, assistimos a disputa por terras travada entre o ambicioso Elói Dantas, filho de um poderoso, e já falecido, coronel do Seridó Potiguar, contra o povo sertanejo, representado pelo vaqueiro Antônio, o poeta Tião e a juremeira Maria dos Remédios. A obra de Ribeiro Jr., demonstra a sua potência ao trazer um longa-metragem com temas tão sensíveis, sobre terras, colonialismo, religiões afro-luso-ameríndias, em um momento que o Brasil estava submerso no regime ditatorial militar. Na luta contra Elói, Maria dos Remédios exerce seus conhecimentos ritualísticos da prática da Jurema Sagrada, para fechar o corpo de Tião para que o poeta lute contra o herdeiro do coronel Severo Dantas. O enredo de Boi de Prata (1981) conta ainda com um aspecto temporal que não segue um tempo retilíneo, mas que faz curvas, avança e retrocede, evidenciando os aspectos alucinógenos da bebida da Jurema Sagrada. O poeta Tião, que faz uso do chá da casca da jurema preta, é guiado nos seus momentos de agruras por um boi prateado, que aparece em suas visões espirituais, levando-o para caminhos mais seguros na vida. Para analisar essa obra, faremos uso, além do filme como fonte, dos pontos cantados que aparecem no longa e de entrevistas coletadas com membros da produção do filme, como Amaro Bezerra (maquiador) e Mirabô Dantas (músico), em vista da ausência do diretor Ribeiro Jr., em nosso plano físico terreno. Trabalharemos nossas fontes à luz da Análise do Discurso e da História Oral, sustentando nossa discussão dentro do campo teórico-conceitual dos sertões, das representações e dos hibridismos culturais.