Quando o anjo da História sobrevoa as terras sertanejas: usos e representações da noção de sertão na Casa da Memória Potiguar (1934-1972)
Conceito de Sertão. História da Historiografia.Teatralização do poder.
A presente dissertação tem por escopo investigar os usos da noção de sertão nos textos publicados na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, entre os anos de 1934 a 1972. Discute os escritos de homens como Eloy Castriciano de Souza, Nestor dos Santos Lima, José Augusto Bezerra de Medeiros e Luís da Câmara Cascudo, no intuito de enxergar diferentes concepções, contextos e, assim, os usos da noção. Neste recorte temporal, considera-se para a análise 27 volumes da Revista, além de obras que os sócios publicaram individualmente fora do Instituto. Utilizando o exame quali-quantitativo, são acatadas as contribuições por parte de Michel Foucault no que tange a análise do discurso, a salientar a vontade de verdade, os jogos de poder, diferentes articulações quanto à historiografia em questão. A proposta de investigação se divide em dois momentos. Primeiro, toma-se como suporte a abordagem teórica da sociologia de Pierre Bourdieu para esmiuçar, na historiografia produzida pelos letrados, a teatralização do poder que se manifesta nas publicações, de maneira a examinar interesses políticos e intelectuais. Comemorações, necrologias, homenagens, atas da redação da Revista, respostas a outros homens de letras e biografias se encaixam nesse quadro de fontes, direcionado ao esquadrinhamento dos jogos de poder. Essa fase se caracteriza por se interrogar sobre a troca de elogios que ocorre em significativa parcela das fontes. No segundo momento, apresenta-se argumentos e questões a respeito dos usos da noção de sertão realizados pelo grêmio potiguar. Esta operação é uma tentativa de problematizar as representações, distintas facetas, além dos aspectos político e social inculcados aos sertões pela rede de sociabilidade formada pelo Instituto. Nesse transcurso, há o diálogo com a perspectiva da psicanálise, ao apontar, nas fontes, elementos do sertão visto como problema para os profissionais da política. O debate marca-se pela discussão da fé no progresso, que anda paralelo às representações dos sertões nesse contexto selecionado. Desse modo, a dissertação coloca em questão as dimensões políticas e intelectuais do Instituto potiguar, entendendo que as representações dos sertões se pautam pelas intenções daquele que escreve. O argumento elaborado nesse trabalho é que as representações do sertão são usadas, sobretudo, na construção de uma história política, particular e elitista, por parte dos sócios.