Sífilis gestacional e congênita: análise epidemiológica dos fatores
relacionados às notificações no estado do Rio Grande do Norte.
Sífilis. Gravidez. Sífilis Congênita. Cuidado Pré-Natal. Serviços de Vigilância Epidemiológica.
A sífilis é considerada uma infecção sexualmente transmissível, de caráter sistêmico e curável, causada pelo Treponema pallidum e tratável com antibióticos. Apresenta altas taxas de transmissão vertical, acarretando graves problemas de morbimortalidade como a sífilis congênita. Tem como objetivo geral analisar os fatores relacionados aos casos notificados de sífilis gestacional e congênita no estado do Rio Grande do Norte. Tratase de uma pesquisa de abordagem quantitativa epidemiológica, do tipo descritivo e ecológico, proveniente de dados secundários, tendo como área de abrangência o estado do Rio Grande do Norte, realizada no ano de 2020. A amostra foi composta a partir dos critérios de elegibilidade e totalizou 1892 notificações de sífilis em gestantes e 2101 notificações para sífilis congênita no período de 2014 a 2018. A coleta de dados ocorreu entre os meses de outubro a dezembro por meio do banco do Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Os dados foram organizados no programa Microsoft Excel para tabulação e a análise estatística por intermédio do software Statistical Package for the Social Sciences versão 23.0. Para análise estatística, foram utilizados os testes de Quiquadrado ou exato de Fisher, bem como calculadas os Odds Ratio com respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%), seguida de regressão logística para obtenção dos valores ajustados para verificar as associações entre as variáveis de interesse. A significância adotada foi de p<0,05. Por fim diferenças estatísticas entre os valores gastos (R$) de internamento entre a sífilis gestacional e congênita foram obtidas, quando paramétricos, por teste t independente e quando rompido pressuposto gaussiano por Mann-Whitney e como medida de qualidade de ajuste do modelo logístico foi utilizado o teste de Hosmer e Lemeshow, no qual um p > 0,05 indicará que o modelo está ajustado. Inerente aos aspectos éticos, a pesquisa foi conduzida de acordo com a Resolução nº 510/16 do Conselho Nacional de Saúde, que aborda as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos e como o estudo fez o uso de dados secundários, foi dispensada a análise do Comitê de Ética e Pesquisa. No período investigado foi observado um incremento de casos notificados no ano de 2018. O perfil materno registrado aponta mulheres com idade média de 20 a 29 anos (50,0%), pardas (57,9%), com baixa escolaridade (61,2%). A análise do pré-natal identificou predomínio do diagnóstico materno no terceiro trimestre gestacional (40,0%) apesar da realização do mesmo por (84,3%) dessas mulheres gestantes e presença de testes não treponêmicos reagentes em (82,6%) e treponêmicos (49,5%) das mulheres no momento do parto. No tocante ao tratamento materno, apenas (3,3%) destas mulheres foram registradas com esquema de tratamento adequado e (18,6%) dos parceiros foram tratados concomitantemente às gestantes. Nos desfechos relativos às crianças, foram registradas (98,5%) com diagnóstico de sífilis congênita recente e um número de (1,1%) de óbitos pelo referido agravo no estado. Ao que concerne as internações pelo agravo notificado, apresentou um número médio de 79,2 por sífilis congênita com um valor médio de R$ 4.217 por menor. Os resultados apontam, além disso, para lacunas importantes nos processos de vigilância epidemiológica quanto ao preenchimento das notificações no que versa a informações ignoradas e em branco. A análise da notificação da sífilis gestacional e congênita possibilitou concluir que a transmissão vertical esteve relacionada a perdas de oportunidades diagnósticas e terapêuticas. A elaboração de estratégias para detecção precoce e adesão ao tratamento da doença devem ser adotadas, tendo em vista o fortalecimento da assistência e a quebra na cadeia da transmissão vertical da sífilis, além de se evitar e/ou minimizar os internamentos de crianças em decorrência da sífilis congênita. Ressalta-se a necessidade de qualificação profissional para notificação da doença, bem como para os cuidados na hospitalização do recémnascido acometido pelo agravo e ampliação no fornecimento de informações à vigilância epidemiológica, a fim de possibilitar a continuidade da análise ao agravo.