Estigmas, preconceitos e mitos na busca da fidelização de doadores de sangue e as representações sociais
Doadores de sangue; Anemia; Idosos; Psicologia Social; Enfermagem.
INTRODUÇÃO: As Representações Sociais são sempre representação de um objeto ou de um sujeito, a partir dos conhecimentos construídos pelas relações do homem com o ambiente, na medida em que transforma algo desconhecido em conhecido e familiar. Esta transformação revela a interdependência da realidade psicossocial cujos elementos estruturais e estruturantes são característicos de seu aspecto conceitual e figurativo. Dados da Organização Mundial de Saúde e do Ministério da Saúde mostram que a quantidade de doadores de sangue altruístas e fidelizados é insuficiente para suprir as necessidades atuais, colocando em risco vidas de pessoas que dependem dessa terapêutica. OBJETIVO PRIMÁRIO: analisar a cultura de doação de sangue, os estigmas, preconceitos e mitos na busca de fidelização de doadores e suas representações sociais. SECUNDÁRIOS: avaliar a doação de sangue de pessoas idosas em serviço de hemoterapia privado; analisar a anemia como fator de inaptidão provisória para doação de sangue; analisar o conceito “Doador de sangue fidelizado” e verificar à luz das representações sociais, se existe doadores de sangue fidelizados. MÉTODO: Trata-se de um estudo exploratório descritivo, de abordagem quanti-qualitativo com suporte da teoria das representações sociais. A pesquisa realizou-se no Serviço de Hemoterapia Ltda, HEMOVIDA, instituição particular, Natal, Estado do Rio Grande do Norte, Brasil. Os dados da inaptidão por anemia foram coletados no módulo Triagem Clínica, software especializado denominado Hemote Plus®, entre os anos de 2010 a 2015. O convite aos 86 idosos, para nova doação, realizou-se através da comunicação/marketing, após atenderam aos critérios de inclusão: ter idade entre 67 anos a 69 anos e que realizaram doações de sangue de novembro de 2012 a novembro de 2014. Para analisar o conceito “Doador de sangue fidelizado” utilizou-se de 15 artigos científicos concernentes ao tema e o método proposto por Walker e Avant e para verificar a existência de doadores fidelizados, utilizou-se de uma amostra (por conveniência) de 121 indivíduos. Os dados sociodemográficos e das entrevistas foram submetidos ao software Analyse Lexicale par Contexte d`um Ensemble de Segments de Texte (ALCESTE) e analisados à luz da Teoria das Representações Sociais e da Teoria do Núcleo Central complementada pela análise de conteúdo de Bardin. RESULTADOS: A inaptidão por anemia se destaca com 51,47% entre as inaptidões mais prevalentes e está associada aos doadores do sexo feminino. Dos 86 idosos convocados, compareceram 20 doadores e, desses, apenas 8 tinham idade acima de 67 anos. O conceito doador de sangue fidelizado, além de incorporar qualidades positivas e reter variada apresentação de termos semelhantes, traduz uma carga semântica que provoca reações confortáveis e práticas em sua utilização. Representação social do doador de sangue fidelizado originou quatro categorias a partir das quatro classes geradas pelo software: Sociedade: gente e outras pessoas (Classe 4); Ajudar o próximo vs. Vida da pessoa (Classe 2); Ajudar o próximo versus vida da pessoa (Classe 3; Tenho oportunidade, mas falta tempo para doar (Classe 1). Respectivamente em termos de representações sociais apresenta as funções de: orientação, saber, identitária e justificadora. CONCLUSÃO: Comprovou-se a inaptidão por anemia nas mulheres por essas apresentarem as perdas sanguíneas mensais (menstruação), gravidez e amamentação. Observa-se um baixo retorno dos doadores idosos para realizar nova doação de sangue, podendo-se atribuir esse fato à desinformação quanto à atual idade máxima para doação e pelas comorbidades, prevalentes nessa faixa etária enquanto fatores de inaptidões para doação de sangue. O conceito de “doador de sangue fidelizado” requer mais estudos para sua cristalização, tornando-o familiar, além de garantir sua presença na reposição dos estoques de sangue e hemoderivados. Refutada a hipótese alternativa, não há representações sociais do doador de sangue fidelizado, o que se se remete ao conceito. Conclui-se que o não doador de sangue fidelizado apresenta as três dimensões das representações sociais: atitude, informações e o campo representacional, enquanto são propagandeadas, publicadas e não difundidas no grupo investigado, caracterizando-se como representações sociais polêmicas.