Cargas de trabalho em profissionais de enfermagem inseridos nos Centros de Atenção Psicossocial - III.
Enfermagem. Saúde do Trabalhador. Cargas de Trabalho. Serviços de saúde mental
Objetivou-se analisar os fatores que contribuem para geração das cargas psíquicas de trabalho e sobrecarga ocupacional dos profissionais de enfermagem inseridos nos CAPS III. Trata-se de estudo exploratório e descritivo com abordagem quantitativa. A coleta de dados ocorreu no período compreendido entre os meses de agosto a setembro de 2016, utilizando-se dois instrumentos específicos: (1) Roteiro de entrevista semiestruturada, gravada em dispositivo MP4 que objetivou identificar sentimentos de prazer e sofrimento vivenciados no ambiente de trabalho, as cargas psíquicas e as estratégias defensivas para enfrentamento do sofrimento no trabalho e (2) Escala de Avaliação do Impacto do Trabalho em Serviços de Saúde Mental - IMPACTO-BR com o intuito de avaliar a sobrecarga ocupacional. Entrevistou-se 46 profissionais de enfermagem atuantes nos CAPS III dos municípios de Campina Grande e João Pessoa. O tratamento e análise das falas foi realizado por intermédio do software Interface de R pour Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionneires (IRAMUTEQ) que realiza a análise lexical por CDH. Nas linhas de comandos foram digitadas número dos participantes acrescido das seguintes variáveis: categoria profissional, sexo e tempo de serviço no CAPS III. O objetivo foi identificar se havia nível de significância entre as variáveis com as classes dos dendogramas. Já os dados da Escala IMPACTO-BR foram organizados e armazenados em um banco de dados construído no programa Statistical Package for Social Science (SPSS), versão 20.0. Para a análise descritiva das sub-escalas do impacto BR foi realizado o teste de análise de variância (ANOVA) e para comparação entre as sub-escalas e as variáveis sociodemograficas dos participantes aplicou-se o Teste t de Student. Para todos os testes estatísticos utilizaram-se como nível de significância de 5%. Este estudo obteve licenciamento pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN de acordo com o CAAE: 57947916.4.0000.5537, parecer nº 1.675.537. Dos 46 entrevistados, 80,4% eram do sexo feminino, com faixa etária de 25-35 anos correspondendo a 39,1% dos trabalhadores, de maioria de 41,3% casados. Em relação a categoria profissional 58,7% corresponderam aos técnicos de enfermagem e 41,3% a categoria de enfermeiros. Quanto tempo de atuação nos CAPS III 67,3% atuam no período entre 1 e 5 anos e 54,3% apresentam regime de trabalho de 30 horas semanais. Da análise lexical por CDH do IRAMUTEQ foram desveladas quatro dendogramas com os seguintes temas: o prazer no ambiente de trabalho; o sofrimento no ambiente laboral; as cargas psíquicas e as estratégias defensivas utilizadas pelos profissionais de enfermagem. Os sentimentos de prazer foram identificados como: atuar na área de enfermagem em saúde mental, o resultado do tratamento implementado, o significado do trabalho e ao cuidado de enfermagem. O sofrimento relacionou-se as condições de trabalho, a precariedade de recursos materiais e financeiros, a falta de recursos humanos, a fragilidade na rede de saúde mental e a própria natureza do trabalho. As cargas psíquicas estão relacionadas ao ritmo de trabalho, estrutura física, trabalho feminino, o trabalho com usuário em sofrimento mental, a falta de apoio da gestão, equipe multidisciplinar insuficiente e a falta de supervisão clínica. As estratégias defensivas utilizadas pelos profissionais de enfermagem foram: realizar atividades físicas, relacionamento interpessoal, realização de atividade de lazer, uso de psicofármacos, buscar apoio na religião e distanciamento crítico. Entretanto, o hábito de fazer uso de psicofármacos foi identificado como prejudicial à saúde dos profissionais. Da Escala IMPACTO-BR foi registrado escore médio global de 2,81 ± 0,67 o que resulta em moderado impacto para o trabalho. A sub-escala que contribuiu com o maior nível de impacto do trabalho foi a referente às repercussões emocionais do trabalho com 3,00 ± 0,77. Os dados obtidos demonstraram que o mais alto nível de impacto foi relacionado às repercussões emocionais do trabalho. A comparação das sub-escalas com as variáveis demográficas apresentaram evidência de diferença estatística entre as repercussões emocionais do trabalho 3,11 ± 0,67 e saúde física e mental 2,66 ± 0,77 com o sexo. O sexo feminino foi o que apresentou grau elevado de sobrecarga para o trabalho. Observou-se correlação negativa nos resultados de sobrecarga ocupacional, com isso conclui-se pela necessidade de realização de avaliações contínuas e regulares dos serviços pesquisados a fim de monitorar a sobrecarga de trabalho com intuito de promover qualidade de vida dos profissionais de enfermagem e um melhor atendimento aos usuários. Espera-se que os resultados encontrados nessa pesquisa contribuíam diretamente para produção cientifica para área de enfermagem e Saúde do Trabalhador.