Autonomia do enfermeiro obstetra na assistência ao parto de risco habitual
Enfermagem Obstétrica. Autonomia Profissional. Assistência ao Parto. Serviços de Saúde. Cultura.
O novo modelo de atenção de saúde no Brasil ressalta a importância do enfermeiro obstetra na melhoria da qualidade da atenção à mulher no ciclo gravídico-puerperal. Contudo, consolidar a presença deste profissional na cena do parto das instituições do Sistema Único de Saúde, constitui um desafio devido às crenças e valores, e às condições estruturais e organizacionais dos locais de trabalho que modelam o poder-saber das relações profissionais. As tensões e os conflitos resultantes da construção da autonomia do enfermeiro obstetra na assistência ao parto precisam ser explicados para conhecer as condições que favorecem ou dificultam a autonomia do enfermeiro obstetra nesse processo. O objetivo deste estudo foi construir uma abordagem teórica explicativa da autonomia do enfermeiro obstetra na assistência ao parto de risco habitual no âmbito da cultura hospitalar. Estudo qualitativo, com delineamento teórico-metodológico da Etnografia segundo Spradley, desenvolvido em três maternidades públicas no estado do Rio Grande do Norte, Brasil. Participaram três gestores e 23 enfermeiros obstetras. A coleta de dados ocorreu de julho a outubro de 2016 após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, conforme pareceres n° 1.535.089 e n°1.713.075 (emenda). Informações sobre a atuação do enfermeiro foram coletadas por observação participante, registradas em diário de campo, e complementadas pelas entrevistas semiestruturadas e de grupo focal. A coleta cessou quando não havia novos dados a explorar. Utilizou-se o Atlas.ti software e os preceitos de Spradley para a análise dos dados, realizada simultaneamente à coleta. Quatro termos cobertos emergiram: Vivência do enfermeiro obstetra em diferentes contextos de atuação hospitalar; Relações sociais e de poder presentes no âmbito institucional da assistência ao parto de risco habitual; Aspectos profissionais e institucionais relacionados à autonomia do enfermeiro obstetra; Autonomia profissional sob a ótica dos enfermeiros obstetras. Os temas foram conceptualizados com base em Foucault sobre o poder na construção da autonomia. Os conceitos e as suas relações compreendem uma explicação teórica da autonomia do enfermeiro obstetra na assistência ao parto de risco habitual no âmbito da cultura hospitalar. Nesse espaço, as condições estruturais, práticas organizativas, e o ambiente cultural contribuem para a dependência ou a autonomia do enfermeiro. As instituições e os profissionais desencadeiam relações sociais e de poder que reproduzem o conceito de autonomia vinculado ao paradigma dominante de individualismo e de relações de domínio e submissão. Conclui-se que o modelo construído desvela a enfermeira obstetra do Rio Grande do Norte em sua vivência de diferentes contextos culturais que influenciam seu poder decisório na assistência ao parto. Vislumbra a autonomia construída por um saber-poder que amplia e respalda a atuação do enfermeiro por meio de um valor ético que enaltece o trabalho multiprofissional em que soluções aos desafios e impasses são dialogadas, não impostas. Diante dessas considerações pode-se afirmar que a autonomia não é dada, e sim conquistada por aqueles que têm consciência do seu papel na transformação da sua práxis a partir das relações de poder que estabelecem com o outro na perspectiva do crescimento conjunto.