Aproveitamento da glicerina oriunda da síntese do biodiesel em sistemas microemulsionados visando aplicação na solubilização de herbicidas.
Glicerina, Microemulsão, Solubilização, Plantas daninhas, Fitotoxidade.
O programa PROBIODIESEL do Ministério da Ciência e Tecnologia aumentou consideravelmente a perspectiva de crescimento da oferta de glicerina, gerada como sub-produto no processo de produção do biodiesel, levantando questões sobre alternativas econômicas ambientalmente corretas para a utilização deste co-produto. Por outro lado, os herbicidas, embora desempenhem papel de fundamental importância no sistema de produção agrícola vigente, têm sido alvo de crescente preocupação por parte dos diversos segmentos da sociedade, em virtude de seu potencial de risco ambiental. Neste trabalho empregou-se a glicerina em sistemas microemulsionados para a aplicação na solubilização de herbicidas, visando uma melhor eficiência e menor contaminação ambiental provocada pelas perdas desses produtos para o meio ambiente. Para obtenção dos sistemas microemulsinados foram utilizados Unitol L90 e Renex NP 40 como tensoativos, butanol como co-tensoativo, óleo de coco como fase óleo e como fase aquosa utilizou-se soluções de glicerina + água. Através da determinação dos diagramas de fases, a região de microemulsão foi encontrada no sistema E (Unitol L90, óleo de coco e glicerina + água 1:1). Escolheu-se três pontos ricos em fase aquosa para caracterização e aplicação na solubilização dos herbicidas glyphosate e atrazine. Para a aplicação, foram realizados três experimentos na Horta do Departamento de Ciências Vegetais, setor Fitotecnia, UFERSA, Mossoró-RN. O experimento I foi desenvolvido em blocos casualizados completos com 20 tratamentos e quatro repetições. Os tratamentos consistiram de cinco doses do herbicida glyphosate (0,0; 0,45; 0,9; 1,35 e 1,8 L ha-1) diluídos em quatro caldas: C1, C2, C3 (microemulsões) e C4 (água). A fitotoxicidade sobre B. brizantha foi avaliada aos 7, 14, 28 e 60 DAA (dias após aplicação). Aos 60 DAA, avaliou-se a biomassa seca das plantas. O experimento II foi desenvolvido em blocos casualizados completos com 20 tratamentos e quatro repetições. Os tratamentos consistiram de cinco doses do herbicida atrazine (0,0; 0,4; 0,8; 1,6 e 2,4 L ha-1) diluídos em quatro caldas: C1, C2, C3 (microemulsões) e C4 (água). A fitotoxicidade sobre Zea mays e T. paniculatum foi avaliada aos 2, 7, 20 DAA. O experimento III foi desenvolvido em blocos casualizados completos com 16 tratamentos e três repetições. Os tratamentos consistiram 16 combinações entre os constituintes da microemulsão: Tensoativo Unitol L90 (0,0; 1,66; 5,0 e 15 %) e Glicerina (0,0; 4,44; 13,33 e 40,0 %). A fitotoxicidade sobre Zea mays foi avaliada aos 1, 7 e 14 DAA. Aos 14 DAA, avaliou-se a biomassa seca das plantas. O controle de plantas usando as microemulsões foi inferior ao da água devido a intoxicação inicial causada pelas microemulsões nas folhas das plantas, fato que dificultou a absorção e translocação do herbicida. Não houve intoxicação nas plantas de Zea mays causadas pelo herbicida, porém, foram altamente intoxicadas pelas microemulsões. O T. paniculatum foi melhor controlado nas pulverizações com as microemulsões, independente da dose do herbicida. A glicerina não provocou danos às plantas. Maiores intoxicações nas plantas são causadas pelo tensoativo Unitol L90 e índices mais elevados ocorrem com o uso de maiores concentrações do tensoativo e da glicerina, ou seja, microemulsão. As microemulsões comportaram-se como herbicidas de contato, contribuindo-se em potencial herbicida com a vantagem de ser biodegradável e de aproveitar a glicerina, que é um sub-produto do biodiesel.