Banca de QUALIFICAÇÃO: FELLIPE COELHO LIMA

Uma banca de QUALIFICAÇÃO de MESTRADO foi cadastrada pelo programa.
DISCENTE: FELLIPE COELHO LIMA
DATA: 06/08/2012
HORA: 09:00
LOCAL: Auditorio de Psicologia
TÍTULO:

A Psicologia do Trabalho e das organizações na formação graduada do psicólogo no brasil


PALAVRAS-CHAVES:

Psicologia Organizacional e do Trabalho; formação profissional; projeto pedagógico de curso


PÁGINAS: 68
GRANDE ÁREA: Ciências Humanas
ÁREA: Psicologia
RESUMO:

A Psicologia do Trabalho e das Organizações (PT&O) brasileira é heterogênea quanto a suas ações profissionais, temáticas estudadas, abordagens teórico-metodológicas e posturas ideopolíticas. Essa pluralidade é devedora da emergência, ao longo de sua história, de formas diversas de a Psicologia enfrentar os problemas das organizações e do trabalho, sendo elas: a Psicologia Industrial, a Psicologia das Organizações e Psicologia do Trabalho e das Organizações. Muito mais do que modelos paralelos de a Psicologia aproximar-se do fenômeno do trabalho, elas representam um acúmulo histórico de tentativas de oferecer soluções aos problemas humanos nesse contexto (Martin-Baró, 1996. Sampaio, 1998). Ou seja, as diversas propostas existentes na Psicologia Industrial foram sendo atualizadas e resignificadas quando da Psicologia das Organizações e da Psicologia do Trabalho e das Organizações, ao passo que também outras temáticas começaram a ser investigadas na emergência de cada modelo, passando a PT&O a ser a condensação desse processo histórico. Por seu turno, o avanço desse campo da Psicologia é associado ao desenvolvimento do capitalismo e de seus paradigmas de organização do trabalho, traduzidos no taylorismo-fordismo e no toyotismo. Mais precisamente, cada um desses paradigmas engendrou um tipo de trabalhador (Gramsci, 2008), entendido como um modo específico de ser, viver e agir colocado para a classe trabalhadora, demandando da PT&O formas diversos de lidar com a subjetividade dos trabalhadores (Heloani, 2005). Assim, cada um desses momentos históricos da PT&O distingue-se quanto ao conjunto de práticas profissionais, temas de investigação científica (Sampaio, 1998; Zanelli e Bastos, 2004), enfoque analítico-interventivo (Martin-Baró, 1996) e concepção de homem (Malvezzi, 2006) que carregaram consigo. Assim, alinhado com o tipo de trabalhador taylorista-fordista encontra-se a Psicologia Industrial implicada em corroborar com a cisão entre a mente e o corpo do trabalhador, preocupando-se em recrutar, selecionar, treinar (capacidades psicomotoras, principalmente), avaliar e adaptar esses sujeitos (Sampaio, 1998; Zanelli e Bastos, 2004), seguindo um enfoque individualista (Martin-Baró, 1996) e assumindo ora uma concepção de homem-máquina, ora de homem-funcional (Malvezzi, 2006). Ainda dentro do primeiro paradigma de organização do trabalho, mas dando maior relevo aos aspectos subjetivos do trabalhador, a Psicologia das Organizações expandiu-se para o estudo e intervenção em alguns fenômenos como a liderança, motivação, interação interpessoal e grupal (Sampaio, 1998; Zanelli e Bastos, 2004), seguindo uma concepção de homem-emocional e homem-organizacional (Malvezzi, 2006), bem como adotando o enfoque sistêmico (Martin-Baró, 1996). Já sob a égide do toyotismo e a visada maior da subjetividade do trabalhador dentro do local de trabalho, a Psicologia expandiu suas ações para a questão do sentido e significado do trabalho, cultura organizacional, saúde mental, bem-estar e qualidade de vida no trabalho (Sampaio, 1998; Zanelli e Bastos, 2004), preocupando-se com a dimensão política dentro das organizações (Martin-Baró, 1996) e assumindo uma visão de homem-modular (Malvezzi, 2006), movimento que caracterizou a Psicologia do Trabalho e das Organizações. Na contramão dessas três propostas, encontram-se também os estudos críticos do campo, os quais, na América Latina e Brasil, emergiram em meados do século XX e se colocaram contrários às posturas hegemonicamente assumidas até então, adotando referenciais teóricos, metodológicos e políticos distintos (Sato, 2010; Martin-Baró, 1996). Por seu turno, essa complexidade da PT&O não vem sendo retratada adequadamente na formação graduada do psicólogo, restando a transmissão de conteúdos anacrônicos e o uso de abordagens instrumental-tecnicistas que limitam as possibilidades do psicólogo em formação apreender a extensão de práticas e temáticas desse campo da Psicologia (Botelho, 2003). Adicionalmente, também vem se percebendo uma escassez de disciplinas sobre esse campo, o anacronismo dos temas tratados, o desalinhamento destes com as demandas sociais postas a área, dentre outras questões (Kanan & Azevedo, 2006; Freitas & Guareschi, 2004; Zanelli, 1995). Em 2004, com as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para os cursos de Psicologia, vislumbraram-se possibilidades de mudanças estruturais na formação do psicólogo, com potenciais repercussões sobre o modo como esse campo da Psicologia apresenta-se nos cursos. Diante desse quadro, o objetivo geral desta pesquisa é caracterizar como a PT&O está sendo tratada na formação graduada do psicólogo em todo o país, após as DCN, assumindo como objetivos específicos: identificar qual concepção de PT&O permeia os cursos; quais temas e práticas são pensados para esse campo durante a graduação; e analisar o espaço reservado na matriz curricular para tratar desse campo da Psicologia. Esse estudo encontra-se conjugado com o projeto “O lugar das políticas sociais na formação do psicólogo”, desenvolvido pelo Grupo de Pesquisas Marxismo e Educação, compartilhando com este a coleta do material e a caracterização dos cursos de Psicologia no país. Serão analisados os Projetos Pedagógicos de Curso (PPC) de universidades, centros universitários e faculdades públicas e particulares das cinco regiões do país. Atualmente, segundo levantamento realizado na base de dados E-MEC, o Brasil possui 460 cursos de Psicologia, sendo que em diversos casos, uma instituição possui mais de uma dessas graduações. Para efeitos da presente pesquisa, selecionou-se um curso por instituição – seja pelo critério de antiguidade, seja pelo volume de vagas oferecidas – e chegou-se ao computo de 280 cursos, cuja coordenação foi contatada pelo pesquisador, obtendo-se um retorno de 41 documentos (14,6% do total). Os PPC são compostos por dois tipos de materiais – textos descritivos sobre o curso e a matriz curricular (com o ementário) – os quais compõem três blocos analíticos distintos: pressupostos teórico-filosófico-pedagógicos (formado pelos textos descritivos do curso); disciplinas e ênfases curriculares (composto dos trechos que definem as ênfases e seu funcionamento, bem como o ementário das disciplinas); e as práticas profissionais (parágrafos que versam sobre os estágios e as práticas profissionais dentro do curso, assim como as ementas das disciplinas que resgatem esses conteúdos). Os textos descritivos dos cursos passarão por uma análise de conteúdo simples, a fim de levantar categorias em cada uma das três dimensões analíticas; já as disciplinas serão classificadas de acordo com os eixos estruturantes propostos pelas DCN, a saber: práticas profissionais, interfaces com campos afins do conhecimento, fenômenos e processos psicológicos, procedimentos para a investigação científica e a prática profissional, fundamentos teórico-metodológicos e fundamentos epistemológicos e históricos. As disciplinas a serem analisadas são as relacionadas à PT&O, recebendo tal classificação aquelas que fizerem alusão, em sua ementa, a algum tema desse campo da Psicologia. Para determinar se a temática trabalhada pertence à PT&O utilizar-se-á uma lista de descritores derivada da literatura nacional que trata de definir esse campo da Psicologia, sendo ela organizada de acordo com os três períodos históricos da PT&O. Essa estrutura analítica permitirá apreender dois conjuntos de informação. O primeiro relacionar-se-á com a caracterização geral do curso, como, por exemplo, qual a área do conhecimento é priorizada (saúde, humanidades, etc.); como aparece o compromisso social e a formação crítica do psicólogo; quais eixos estruturantes das DCN são priorizados na matriz curricular; dentre outros pertinentes à temática. O segundo conjunto versará sobre a PT&O nessa formação, levantando qual concepção de PT&O é usada (dentre as três que historicamente se formaram), além dos conceitos, temas e práticas associadas a esse campo, a fim de dimensionar o espaço que a PT&O ocupa nessa formação. A relação entre esses dois grupos de dados permitirá uma visão integrada de como esse campo da Psicologia é materializado nos cursos, cotejados com a conformação do curso de maneira mais ampla.


MEMBROS DA BANCA:
Externo à Instituição - MARIO SERGIO VASCONCELOS - UNESP
Externo à Instituição - NADIA MARIA RIBEIRO SALOMÃO - UFPB
Notícia cadastrada em: 02/08/2012 14:42
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