QUAL O LUGAR DA/DO PSICANALISTA NA ESCUTA DO RACISMO AO NEGRO NO BRASIL?
Psicanálise; Escuta clínica; Racismo; Formação; Decolonialidade.
A presente dissertação é fruto das minhas inquietações enquanto mulher, negra, psicanalista,
especialmente, ao escutar as denúncias proferidas por pacientes autodeclaradas/os negras e negros
as posições de colonialidade presentes na atuação das/dos psicanalistas brasileiras/os. É sabido
que no século XIX discursos racistas e cientificistas engendraram políticas de branqueamento e
miscigenação ao nosso povo, o que produziu e produz desdobramentos nos modos de subjetivação
presentes nesse território. Portanto, uma escuta ética e acolhedora às questões raciais não está dada
ou garantida, sendo necessário que outros analisadores compareçam para pensarmos a formação e a
atuação da psicanálise e psicanalistas no Brasil. Assim, diante deste cenário, uma primeira
indagação emergiu: Qual o lugar da/do psicanalista na escuta do racismo ao negro no Brasil? Para
isso buscamos as orientações teóricas dadas por Sigmund Freud e Jacques Lacan sobre a formação
das/dos psicanalistas e a escuta do inconsciente, contudo devido aos processos de colonização e
neurose cultural brasileira outras posturas precisaram ser adotadas. As teorias decoloniais e negras
aqui compareceram como novas lentes a fim de investigar sobre as políticas raciais, racistas, o pacto
narcísico branco que sustenta esta lógica de violência e segregação direcionada a população negra e
fomentar sobre os saberes e as tecnologias ancestrais de resistências negras para tais
enfrentamentos. A partir da tessitura de escrevivências, com experiências que perpassam meu corpo
e formação profissional, e das entrevistas com psicanalistas praticantes no Rio Grande do Norte, esta
pesquisa pode prover elaborações sobre o lugar da escuta psicanalítica na articulação e
desarticulação do racismo, às negações e práticas de colonialidade no setting analítico e as invenções
possíveis deste dispositivo clínico quando em composição com a política.