DISPUTAS DISCURSIVAS EM TORNO DA NOMEAÇÃO QUILOMBOLA
comunidades quilombolas; práticas discursivas; análise de documentos
A presente tese versa sobre a produção discursiva em torno da nomeação quilombola. O
reconhecimento de sujeitos e comunidades quilombolas têm sido marcado por disputas que
envolvem especialmente a questão da demarcação de terras e regularização fundiária no Brasil
e os grandes projetos desenvolvimentistas. Defendemos que as discursividades construídas em
torno da categoria quilombola a partir dos diferentes posicionamentos assumidos concorrem
para (re)produzir diferentes versões acerca dessa categoria. Para isso, a partir da Análise Crítica
do Discurso, analisamos documentos de domínio público enquanto incidentes críticos que
permitiram visualizar a controvérsia produzida em torno do reconhecimento de sujeitos e
comunidades quilombolas, identificando vozes, posicionamentos e repertórios mobilizados. Foi
possível identificar duas matrizes discursivas: 1) histórica/arqueológica; e 2)
plural/heterogênea. A primeira, que reforça a historiografia oficial e contribui para o
apagamento das trajetórias das comunidades negras no pós-abolição, é defendida
principalmente por grupos contrários à demarcação de terras, geralmente ligados ao
agronegócio e ao latifúndio. Essa matriz retroalimenta o racismo e fortalece a estrutura social
de exclusão e desigualdades vivida pelas comunidades quilombolas. Já para a emergência da
segunda matriz, foi importante a atuação política de comunidades negras rurais, em diálogo
com antropólogos(as), e a construção de um movimento social quilombola, o que favoreceu a
produção de um novo léxico a partir de noções como grupo étnico, uso comum da terra e
território. Essa matriz reconhece a diversidade de experiências em torno da ideia de quilombo,
enfrentando o silenciamento histórico vivido pelas comunidades e permitindo a criação de
políticas públicas voltadas para a garantia de direitos e emancipação social.