Banca de QUALIFICAÇÃO: DANIEL RANGEL CURVO

Uma banca de QUALIFICAÇÃO de DOUTORADO foi cadastrada pelo programa.
DISCENTE : DANIEL RANGEL CURVO
DATA : 28/04/2023
HORA: 14:30
LOCAL: Sessão REMOTA
TÍTULO:

Desenvolvimento do poder de ser afetado:  sujeito e liberdade a partir do trabalho no Consultório na rua - uma mirada vigotskiana.


PALAVRAS-CHAVES:

Consultório da rua; Poder de ser afetado; Ofício da psicoterapia.


PÁGINAS: 26
RESUMO:

Esta pesquisa versa sobre as interrelações funcionais entre as atividades de trabalho em um serviço itinerante e multiprofissional da Atenção Básica do SUS, focado no cuidado da População em Situação de rua (PSR), chamado Consultório na rua (CnaR) e a vida afetiva desses profissionais - esta pesquisa, vale dizer, é uma continuidade de minha pesquisa de mestrado e de minha experiência anterior enquanto profissional do CnaR. Criado em 2011/2012, o CnaR está sendo considerado por nós como um fruto desenvolvido da história brasileira por direitos sociais, sendo resultado de amplos e complexos processos, mas que representaremos agora pelo Movimento da reforma sanitária brasileira e a organização do Movimento nacional da população de rua. Graças, então, às condições legais e institucionais do SUS (como os princípios de direito universal e integral à saúde, bem como o de equidade) instituídas na Constituição de 1988 e postas em prática, no caso específico, pela pressão MNPR, a PSR passou a contar, em um número crescente de cidades brasileiras, com este novo serviço da AB.  Podemos ver o CnaR como um serviço de uma política social que surge com o objetivo de promover a efetivação do direito à saúde à PSR. Nesse sentido, a situação social de trabalho no CnaR será compreendida como um lugar emblemático para pensarmos questões ético-políticas e técnico-operacionais da função social das políticas sociais.  Em nosso foco ético-político, nos perguntamos o impacto em relação à convivência, cuidado e defesa do direito à saúde de pessoas consideradas pertencentes a um dos grupos sociais mais violentados e excluídos da contemporaneidade. Do ponto de vista técnico-operatório, nos preocupamos com o uso de tecnologias de cuidado como o acolhimento e o vínculo. Vemos nisso uso da vida afetiva do profissional para promover o cuidado de pessoas que expressam, muitas vezes com a própria condição de seus corpos, o desprezo da maquinaria capitalista pela vida humana. Em termos mais amplos, buscaremos pensar também o desenvolvimento dos recursos de controle do Estado brasileiro frente aos desarranjos sociais necessários ao capitalismo. Para compreendermos melhor a gravidade dessa situação social profissional, devemos levar em conta o lugar social da PSR. A PSR é um grupo populacional urbano moderno caracterizado, principalmente, por pessoas em extrema pobreza que moram e vivem fora de um domicílio privado-tradicional, habitando lugares inicialmente não destinados à moradia, como praças, parques, casas abandonadas, marquises, entre outros.  Enquanto grupo populacional, apesar de sua heterogeneidade e multicausalidade, a PSR denuncia a incapacidade e mesmo a impossibilidade do sistema capitalista em promover o bem comum e, neste sentido, é uma expressão radical e concreta da Questão social (QS). Assim, o CnaR é um serviço da política social de saúde brasileira que visa efetivar o direito à saúde a esse grupo populacional historicamente excluído. A atividade de trabalho no CnaR, de fato, possui algumas características que a destacam de outras formas do cuidado em Saúde. Para fornecer o cuidado a PSR, o CnaR é formado por equipes multiprofissionais, itinerantes e territorializadas que, dentro do âmbito da AB, realizam ações de busca ativa e acompanhamento longitudinal, atenção à saúde in loco (nas calçadas, praças, etc) e nos espaços (muitas vezes preconceituosos, burocratizados e precarizados) dos serviços da rede de saúde e intersetorial.  As equipe CnaR lidam, podemos dizer, com dois territórios, dois mundos historicamente opostos, funcionando como uma ponte que os vincula: os espaços hospitalares (emblemas da basca moderna por controle) e os espaços da PSA. Neste sentido, cabe destacar que o CnaR visa não apenas a atenção à saúde propriamente dita, mas também provocar a redeSUS de saúde (enfrentar e desarmar processos discriminatórios que dificultam ou mesmo impedem a PSR acessar e receber atendimento qualificado) e a PSR (pensando a promoção à saúde e o fortalecimento enquanto sujeito político). Assim, diversos profissionais de saúde passaram a acessar locais em que, historicamente, o Estado só chegava com repressão e efetivar, não raras vezes, após um esforço de vinculação, o direito à saúde dessas pessoas. O CnaR, ao defender e efetivar a atenção integral à saúde da PSR como um direito universal, tensiona no SUS em seus princípios e em suas práticas, funcionando como índice e arena da disputa entre modelos de cuidado, entre funções sociais da saúde pública brasileira. Assim, estamos investigando os impactos dessa atividade de trabalho na vida afetiva desses trabalhadores. Nesse cenário relacional, nessa situação social de trabalho, ao pensarmos a vida afetiva dos trabalhadores, teremos nosso olhar específico no desenvolvimento do poder de ser afetado (DPSA). A noção de poder de ser afetado (PSA) é uma noção spinozana retomada por Y. Clot para compreender a subjetividade como um processo singular e relacional inacabado, aberto ao desenvolvimento (mas também à atrofia), apoiado em um corpo apto a ser afetado, memorioso e imaginante. Assim, o PSA refere-se à “plasticidade subjetiva” ou “vitalidade dialógica interna”, que o sujeito pôde conquistar e que “o prepara para suportar ou apreender os imprevisíveis do real diante dos quais ele deve se determinar” (Clot, 2010, p.31). A depender de seu DPSA, o sujeito poderá ter maior ou menor consciência e controle de como o real o afeta, bem como do jogo de possibilidades disponíveis para sua ação. Com efeito, o DPSA refere-se ao desenvolvimento das migrações e relações interfuncionais no psiquismo. Assim, o PSA não se restringe à sensibilidade passiva frente uma afecção, mas também à capacidade subjetiva para refuncionalizar tais afecções, integrando-as em seu sistema psíquico e em suas ações/atividades no mundo, aumentando seu poder de agir. Como o próprio Clot anuncia, o diálogo entre Vigotski e Spinoza são fontes fundamentais para a noção de PSA e mesmo para desenvolvermos uma Psicologia do trabalho que seja uma Psicologia geral do desenvolvimento adulto. Este caminho traçado por Clot nos pareceu fundamental para pesquisarmos o DPSA dos trabalhadores do CnaR. Nesse sentido, acabamos por nos colocar em aprofundamento teórico, em busca de uma noção de Sujeito e de uma metodologia capaz de pesquisar a vida afetiva desses trabalhadores. Podemos dizer que trabalhamos com a dupla incógnita vigotskiana na busca de adequação teórico-metodológica para esta pesquisa. Estamos, então, desenvolvendo uma pesquisa exploratória sobre o DPSA a partir da atividade de trabalho no CnaR. Nesse sentido, nosso objetivo geral é Analisar, nas dimensões ético-política e técnico-operatória, o desenvolvimento do poder de ser afetado dos trabalhadores do CnaR.  Objetivos específicos: 1 - Caracterizar a PSR e o CnaR no Brasil; 2 - conceito de sujeito a partir da noção de DPSA; 3 - DPSA e a atividade de trabalho no CnaR; 4 - Avaliar DPSA implicações Poder de agir no CnaR; 5 - Analisar o DPSA dos profissionais do CnaR como unidade de análise para o desenvolvimento técnico e ético do trato com a “questão social” nas políticas sociais do Brasil contemporâneo. Para isso, além dos estudos teóricos, desenvolvemos e aplicamos um questionário nacional e realizamos dois encontros virtuais com participantes provenientes da minha pesquisa de mestrado. Podemos dizer que estamos nesse momento da pesquisa trabalhando o material produzido e definindo algumas figuras e fundos da nossa análise. Algumas temáticas, contudo, perpassam toda pesquisa e, mais que fundo, funcionam como suporte para que essa pesquisa aconteça. Talvez esse conjunto de temáticas seja bem representado pela ideia de liberdade ou emancipação moderna, passando por uma noção de Sujeito que nos esforçamos em pensar e por questões metodológicas da Psicologia em sua função social.  De toda forma, quando nosso interesse se aproxima, então, da Saúde do trabalhador ou da Psicologia do trabalho, nosso objeto vai se delimitando ainda mais interessante, visto que, ao investigarmos a saúde dos profissionais do CnaR, estamos pesquisando os trabalhadores que cuidam do "refugo" dos explorados pelo capitalismo. Desse ângulo, como tais pessoas estão lidando com os afetos desse drama humano absurdo?


MEMBROS DA BANCA:
Externo à Instituição - CASSIO ADRIANO BRAZ DE AQUINO - UFC
Externo ao Programa - 3010599 - FLAVIO FERNANDES FONTES - nullPresidente - 1134517 - JORGE TARCISIO DA ROCHA FALCAO
Notícia cadastrada em: 25/04/2023 14:31
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