Mulheres e medicalização social: compreensões sobre a colonização de corpos negros
Mulheres negras; Mulheres quilombolas; Saúde mental; Medicalização da vida; Medicalização social.
O crescente aumento no consumo de psicotrópicos no Brasil revela um fenômeno que atinge diversas camadas da população, mas se faz mais acentuadamente presente entre as mulheres com Transtornos Mentais Comuns, quadros intrinsicamente associados as condições de vida, como sobrecarga doméstica e vulnerabilidade social, condições que se apresentam em maior percentual na população negra do Brasil. Esse trabalho se propõe investigar as histórias de vida e as experiências de mulheres negras de uma comunidade quilombola do sertão da Bahia que fazem ou fizeram uso de psicotrópicos. Sob a perspectiva dos feminismos negros e anticoloniais, a partir de uma pesquisa de método qualitativo que utiliza as narrativas das mulheres com o intuito de pesquisar a partir da voz de quem vivência essa experiência. As análises foram realizadas a partir dos eixos: Determinantes associados à prescrição, efeitos do uso de medicamentos e estratégias de resistência. Os resultados apontam as condições de vida, sobrecarga de trabalho, feridas coloniais e violências domésticas como motivadores associado a prescrição, entre os efeitos do uso de medicamentos estão melhoria na qualidade do sono, mas também apatia, falta de motivação e amnésia, a coletividade, solidariedade entre as mulheres e os saberes ancestrais, como uso de ervas se apresentam como estratégias de resistência. Concluímos que a medicalização se apresenta como máscara para as iniquidades enfrentadas por mulheres quilombolas em contextos rurais e nos traz a necessidade de repensarmos políticas públicas de cuidado para as mulheres que considerem as singularidades e territorialidades.