Banca de QUALIFICAÇÃO: FELIPE CAZEIRO DA SILVA

Uma banca de QUALIFICAÇÃO de DOUTORADO foi cadastrada pelo programa.
DISCENTE : FELIPE CAZEIRO DA SILVA
DATA : 17/04/2023
HORA: 14:00
LOCAL: UFRN - https://meet.google.com/zkv-gtut-ryt
TÍTULO:

NARRATIVAS DO COTIDIANO NO USO DE ANTIRRETROVIRAIS PARA O HIV: DO CORPO BIOMEDICALIZADO AO ATOR SOCIAL DA EXPERIÊNCIA


PALAVRAS-CHAVES:

Antirretrovirais, Análise crítica do discurso, HIV/AIDS


PÁGINAS: 100
RESUMO:

Desde a década de 80 até os dias atuais temos enfrentado uma terrível pandemia de um vírus (HIV/AIDS), tornando-se um grande problema de saúde pública mundial. Desde o marco inicial da conhecida ‘epidemia dos anos 80’, o Brasil registrou aproximadamente 1 milhão 88 mil 536 até 2022. Pela rápida progressão da doença, pânico social gerado pela ideia de peste, de incurabilidade e de morte, bem como da ausência de tratamento, foi dada a largada para a mobilização de diferentes esforços para que se pudesse chegar, senão a uma cura, a uma possível intervenção que pudesse controlar ou neutralizar o ciclo infeccioso desse vírus. Assim, apareceu em 1987 o fármaco zidovudina (AZT), ascendendo em conjunto a esperança terapêutica e pesquisas relacionadas aos antirretrovirais (ARV). Este surgimento marcou a abertura para novas pesquisas de tratamento e respostas ao HIV. Essas pesquisas eram particularmente voltadas para contextos clínicos e biológicos, para testar a segurança e eficácia desses antirretrovirais, deixando de lado, muitas das vezes, outros aspectos como o dos eventos adversos do uso da medicação tais como: efeitos psicológicos, sociais e pessoais. Os ARV são fármacos usados para o tratamento de infecções causadas por retrovírus e para profilaxia de doenças oportunistas como a pneumocistose, tuberculose, hepatite C entre outras. A utilização dessa terapia vem determinando profunda reformulação na clínica e na epidemiologia da infecção por HIV, seja nos processos de controle e replicação do vírus, quanto nas políticas de prevenção com a PEP (Profilaxia Pós-Exposição) e a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição). Surge, então, a necessidade de desenvolver estudos em diversos setores sobre o uso destes antirretrovirais não voltados apenas para investigações clínicas e biológicas, mas também psicossociais e de interesse na compreensão das formas de negociação desse uso contínuo por seus usuários e adaptação às suas vidas. Com base nisto, esta tese apresenta um conjunto de estudos em torno da investigação de narrativas sobre o HIV/aids e uso cotidiano de antirretrovirais na perspectiva dos usuários destes medicamentos, seja para tratamento ou prevenção. Busca, ainda, compreender suas significações, dificuldades, implicações, negociações e prescrições médicas experimentadas com a HAART/TARV na contemporaneidade, permitindo investigar seus eventos adversos que não são apenas fisiológicos, mas também externos e sociopolíticos quando carregam uma colonialidade que se mantém ao longo dos anos. Para a realização do primeiro estudo, procuramos, através de uma Revisão Narrativa de Literatura (RNL), investigar a matriz colonial do HIV/aids, os atravessamentos das narrativas científicas, jurídicas criminalizantes e morais midiáticas que fabricam o disciplinamento e normatização dos gêneros e das sexualidades no campo das práticas sexuais através de eixos de poder e, por consequência, contribuem para a supremacia racial advinda da invenção da ideia de raça. Isso foi realizado a partir da metodologia de Análise do Discurso Crítica para problematizar alguns discursos jurídico-legais, midiáticos e científicos. O segundo trabalho, realizado através de um estudo de caso com um usuário que vive com HIV acompanhado pelo autor dessa tese no SAE (Recife-PE), demonstra os impactos do diagnóstico e os aspectos psicossociais mobilizados em um homem negro. O imaginário social da aids discutido no trabalho anterior é pano de fundo para a subjetividade desse usuário que, ao enfrentar dificuldades com o diagnóstico e efeitos adversos da medicação, aponta questões em saúde mental que não são apenas individuais, mas coletivas. Por fim, o último estudo, coração desta tese, trata-se de uma pesquisa qualitativa com utilização de questionário e entrevistas com 12 homens gays sendo 6 que utilizam ARV para tratamento do HIV e 6 que utilizam ARV para prevenção (PrEP) no Serviço de Assistência Especializada (SAE), localizado na Policlínica Gouveia de Barros em Recife-PE. Buscamos trazer neste estudo como os aspectos psicossociais que envolvem o uso da medicação antirretroviral do HIV/aids atravessa a experiência do usuário nesse campo, buscando ainda examinar o que aproxima e o que diferencia aqueles que usam ARV para tratamento dos que usam para prevenção. Neste sentido, buscamos reconhecer os embates discursivos entre os saberes biomédico/farmacológico/psicológico/vivencial, ou seja, as determinações da indústria farmacêutica e da medicina e as experiências construídas ao logo dos usos dos ARV (produção de estratégias, formas de uso, efeitos entre outras questões) pelos participantes. Por fim, tais estudos expõem tanto as questões macro e sociopolíticas que envolvem o campo do HIV/aids e sua pretensa colonialidade, como também  destacam narrativas polissêmicas e singulares relativas à dinâmica do tratamento, à constituição de si enquanto pessoas que vivem com HIV e à produção de resistência e aceitação desenvolvidas para uma vida com mais saúde e qualidade.


MEMBROS DA BANCA:
Presidente - 1744558 - JADER FERREIRA LEITE
Externa à Instituição - KÁTIA BONES ROCHA - UAM
Externo à Instituição - LUCAS PEREIRA DE MELO - USP
Notícia cadastrada em: 31/03/2023 14:26
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