CORPO, GESTAR, PARIR: SOBRE|VIVÊNCIAS MATERNAS
Maternidade; mulheres-mães; psicanálise;
As maternidades pairam sobre discursos construídos historicamente, por diferentes saberes que perpassam o laço social, nos quais apesar de avanços significativos sobre conquistas de direitos das mulheres e das mães, ainda são impostos ideais normativos, por vezes violentos, não respeitando a singularidade de cada uma de construir seu próprio caminho materno. Despertada pelo que cerca as questões, diante das escutas no setting analítico o qual exerço, acompanhei durante nove meses um grupo de pré-natal coletivo o qual buscava desconstruir os ideais impostos, partilhando de experiências singulares e do que delas poderiam vir a fazer encontro com para a produção de cada maternidade. Além disso, guiada pela escuta dentro do consultório, bem como das produções da cultura sobre reportagens, filmes, documentários, músicas, busquei, guiada pela psicanálise, escutar mulheres-mães sobre as suas vivências, e assim, deslocar um sofrimento que parece constante entre elas, para possibilidades de inscrição enquanto mãe, que será particular a cada uma. Nos capítulos, teci considerações sobre este corpo entre o feminino e o masculino, o controle, o feminino na psicanálise; também escrevo sobre o parto, o passado que ressoa nas marcas das violências obstétricas hoje, o parto como acontecimento. Então, relato sobre o tornar-se mãe no período pandêmico que foi concomitante a essa pesquisa, e a inscrição de um lugar enquanto mãe. As mulheres-mães as quais tive contato relatam sofrimentos no controle, sejam nos corpos, no parto, na nomeação enquanto querer ou não a maternidade, ou seja, no seu desejo. Todavia, espaços como o grupo, a clínica, escritas-denúncias como este trabalho, vão fazendo furos nos ideais impostos, na vida de mulheres e suas inscrições subjetivas.