“O VENTO DOS AVOADOS”: UMA APOSTA NA POTÊNCIA DA PERFORMANCE AUTOBIOGRÁFICA E DA ATENÇÃO ESTÉTICA NA PRODUÇÃO DE SAÚDE MENTAL
saúde mental, desinstitucionalização, performance, atenção estética.
Esta pesquisa buscou analisar um processo de experimentação no campo da saúde mental em composição com as artes cênicas em sua dimensão clínica, estética e política que se singularizou com a criação do Coletivo cenopoético Vento dos Avoados. Uma vez que os campos das artes, da clínica e da loucura têm interfaces conhecidas e que no processo de reforma psiquiátrica brasileira destaca-se, atualmente, a tendência ao reconhecimento da autonomia do campo artístico-cultural com relação ao campo psiquiátrico (Torre, 2018), buscamos na pesquisa dar visibilidade a uma linguagem artística e sua relação com a clínica. Na conexão dos campos da saúde mental, performance autobiográfica e da produção de uma clínica pretendemos desenvolver o conceito ferramenta: “atenção estética”. Trata-se de uma pesquisa-intervenção de inspiração cartográfica, fundamentada na filosofia da diferença, autores da desinstitucionalização em saúde mental e nos aportes teórico-metodológicos das artes cênicas com ênfase no teatro documentário e performance. O campo da pesquisa consistiu em oficinas e experimentos cênicos que tiveram como público pessoas do Movimento Nacional da População de Rua do Rio Grande do Norte (MNPR/RN); usuários da rede de atenção psicossocial (RAPS); integrantes da Associação Potiguar Plural; estudantes e um diretor cênico. Como registros do campo apresentamos as narrativas das performances cênicas autobiográficas criadas pelo coletivo, dois diários de campo cartográficos e dezesseis narrativas transcritas a partir de um exercício cênico. Os resultados parciais nos mostram que ao performatizarem suas autobiografias os participantes puderam encontrar histórias alegres esquecidas que, relembradas em seus corpos, os trouxeram um deslocamento subjetivo instaurando-se e afirmando-se como pessoas em suas histórias, encontraram um outro lugar na cidade e na relação com seus corpos. A experiência gerou outra maneira de se fazer e pensar a clínica do campo do sensível, produzindo cuidado em busca da liberdade e aumento da autonomia dos participantes.