Rompendo cercas, construindo saberes: Trabalho agroecológico, vivências e (re)significações nas relações com o lugar
Agroecologia; Contexto Rural; Relação com o Lugar; Psicologia Ambiental; Relação PessoaAmbiente.
Nas últimas décadas, a utilização indiscriminada de agrotóxicos na produção de alimentos vem causando crescente preocupação em diversas partes do mundo. Contrapondo-se ao desenvolvimento hegemônico baseado na monocultura químico-dependente, a agroecologia estimula o cultivo sem a utilização de substâncias químicas e com base nos princípios da sustentabilidade, visando uma produção ambientalmente correta, socialmente justa e economicamente viável. Assim, o padrão produtivo pode definir modificações expressivas no contexto ambiental, podendo influenciar na relação do agricultor com a terra, tanto em termos da elaboração de sua história, como na construção de laços identitários e na produção de subjetividades. Nessa perspectiva, a relação com o lugar pode desempenhar um importante papel na forma como o produtor rural pode ser emocionalmente ligado à sua terra e à comunidade à qual pertence, servindo como relevante meio de compreensão das práticas de cuidado e preservação da natureza. Diante disso, esta pesquisa tem como objetivo geral investigar a natureza da relação com o lugar, a partir das vivências de produtores agroecológicos de uma comunidade rural localizada na zoa rural do estado do Rio Grande do Norte. Para isso, foi adotada uma abordagem qualitativa, de inspiração etnográfica, cujos dados foram construídos por meio da realização de observação participante e entrevistas semiestruturadas. O corpus construído foi analisado com base na análise de conteúdo temática, de lógica interpretativista, utilizando-se o auxílio do software ATLAS.ti. Os resultados do estudo demonstram diferentes aspectos da relação dos agricultores com o lugar, revelando um vínculo multidimensional formado por variadas formas de relações dos participantes investigados. Estes, por sua vez, passaram a ser caracterizados por tipos particulares de apropriações (social, física, territorial, do trabalho e da natureza), que dependiam das trajetórias de vida, das alterações no ambiente e das relações socioeconômicas e ambientais estabelecidas. Também foram observados diferentes posicionamentos nas formas de ser, trabalhar e viver, impulsionando novas formas de relação e (re)significação do lugar, materializadas no gostar de morar e no desejo de permanecer morando no lugar. A pesquisa trata o tema além das fronteiras disciplinares, apresentando a contribuição da Psicologia Ambiental para que novos olhares sejam lançados na discussão sobre o contexto rural e novas reflexões sejam afloradas para um desenvolvimento agrícola mais sustentável.