QUANDO A INDISCIPLINA ESCOLAR É UM SINTOMA? ARTICULAÇÕES PSICANALÍTICAS
psicanálise; sintoma; disciplina escolar; educação; método teórico-clínico
A partir de um caso clínico cuja queixa era uma severa “indisciplina escolar”, este trabalho interrogou quando a indisciplina pode ser um sintoma. Para responder a questão analisamos o conceito de sintoma na perspectiva freudo-lacaneana, e suas articulações com o tema da “indisciplina escolar”. Utilizou-se o método teórico-clínico, no qual a construção do caso dialoga com os textos psicanalíticos reatualizando as questões sobre o tema. Empreendemos uma análise histórica da construção do mecanismo disciplinar através das obras de Foucault (1987; 1996), Deleuze (1988; 1992) e comentadores que apontou o caráter datado e não natural dessa produção discursiva nomeada “indisciplina escolar”, revelando que a queixa de indisciplina nasce de um discurso social que impõe a ideia de que o aprender depende da disciplina. No entanto, esse ideário possui uma fenda, pois algo sempre escapa ao disciplinamento. A resposta do social ao que escapa constitui a queixa de indisciplina, que pode ser tomada como um sintoma social. A cada criança cabe encontrar sua resposta frente a esse discurso, e a mesma define o caráter sintomático, ou não, da mesma. Percorremos o conceito de sintoma e seus desdobramentos na clínica com a criança nos ensinos de Freud e Lacan. A leitura de Freud mostrou que o sintoma é o resultado de um trabalho psíquico que substitui uma representação recalcada e ligada a uma satisfação sexual insuportável, constituindo uma solução para que a criança possa lidar com a castração e com as interdições impostas pelo social. A releitura da obra freudiana empreendida por Lacan coloca o assento no caráter de trabalho psíquico empreendido pelo falante com o seu sintoma, na medida em que lhe permite fazer laço com o social. Analisar, a cada caso, a posição ocupada pelo sujeito frente à queixa de indisciplina permite abrir as vias para o trabalho com a mesma. Se a indisciplina é a resposta do sujeito frente ao Outro social, a partir da psicanálise trata-se de ofertar uma escuta que permita resignificar essa resposta. Elucidar o caráter sintomático, ou não, das atitudes consideradas indisciplinadas convoca à análise da singularidade implicada na resposta de cada criança, a sua subjetividade.