Escuta clínica e atitude fenomenológica no atendimento à pessoa surda: reflexões sobre um processo psicoterápico.
surdez; libras; psicoterapia; escuta clínica; atitude fenomenológica.
A psicologia faz uso da escuta como um dos recursos do seu trabalho. Em se tratando da psicoterapia, a escuta estabelece a comunicação e facilita o diálogo entre psicólogo-cliente. A presente pesquisa, de caráter qualitativo, tem por objetivo discutir a escuta clínica na atitude fenomenológica na psicoterapia fenomenológico-existencial com pessoas surdas. Essa perspectiva está embasada no pensamento do filósofo alemão Martin Heidegger, que considera o humano um ser-com e ser-no-mundo, sempre desvelando sentidos. Com relação às pessoas surdas, atualmente a Libras é a língua natural das pessoas surdas brasileiras. Nessa nova configuração de língua a comunicação ocorre na modalidade espaço-visual. Assim, escuta e fala ganham novas dimensões que demandam diferentes formas de compreensão no campo da psicoterapia. Para o desenvolvimento desta pesquisa, apresentamos recortes das narrativas de sessões psicoterapêuticas com um cliente surdo, interpretadas à luz da hermenêutica heideggeriana. Consideramos ser possível para o psicoterapeuta escutar pessoas surdas em atitude fenomenológica, com postura que não naturaliza e não limita o humano, auxiliando para que o cliente se responsabilize por seu existir e que possa dialogar hermeneuticamente em sua língua, cabendo, nesse contexto, ao psicólogo estar habilitado em Libras para realizar o atendimento. Esperamos que esta pesquisa possa, de alguma forma, preencher a lacuna existente no que se refere à produção científica sobre tal temática, no campo da psicologia, e, principalmente, fomentar a discussão no contexto dos cursos de psicologia acerca da importância e necessidade de capacitar o psicólogo para o manejo da prática clínica com pessoas surdas.