Peptídeos antimicrobianos. Staphylococcus aureus. Cepa multirresistente. Sinergismo farmacológico.
Nas últimas décadas a saúde enfrenta um cenário de escassez na produção de novos antibióticos e a presença cada vez mais frequente de infecções causadas por bactérias multirresistentes. Nesse contexto a associação de antimicrobianos tem sido uma prática médica comum para promover a ampliação da atividade farmacológica, com maiores chances de eliminação de cepas resistentes. Considerando a necessidade do desenvolvimento de novos antibióticos, peptídeos antimicrobianos (PAMs) catiônicos de escorpião constituem-se moléculas promissoras como agentes antimicrobianos, que em associação com antibióticos podem potencializar seu efeito antibacteriano. A atuação dos PAMs em múltiplos alvos farmacológicos do micro-organismo, tendo o seu principal mecanismo de ação a formação de poros na membrana bacteriana, pode permitir o melhor efeito de agentes antimicrobianos convencionais. O TsAP-2 é um PAM catiônico presente no escorpião Tityus stigmurus, com atividades antimicrobiana, imunomoduladora e cicatrizante, com maior seletividade em cepas Gram-positivas. Neste estudo, foi investigado o potencial antimicrobiano e antibiofilme do TsAP-2 contra cepas de S. aureus multirresistente de isolado clínico in vitro e sua biocompatibilidade em células de mamíferos. Além disso, a atividade antimicrobiana in vivo do TsAP-2 utilizando larvas de Galleria mellonela e o efeito da combinação do peptídeo com antibióticos convencionais foram avaliados. O TsAP-2 apresentou atividade contra todas as cepas multirresistentes entre 21,6 μg/mL a 43,3 μg/mL. Na atividade antibiofilme, o TsAP-2 teve maior atividade sobre o biofilme precoce, com inibição de 98,97% da sua formação na concentração de 43,3 µg/mL, e fraca atividade sobre o biofilme tardio. TsAP-2 mostrou atividade hemolítica crescente e proporcional a sua concentração, com citotoxicidade em fibroblastos murinos a partir de 86,6 μg/mL (2x CIM), sem apresentar efeito tóxico em células epiteliais renais de primatas. In vivo, o peptídeo reduziu em 50% as bactérias resistentes circulantes na hemolinfa, promovendo um aumento na sobrevida das larvas, com baixa toxicidade. Quando combinado com antibióticos convencionais, o TsAP-2 apresentou efeitos aditivos e sinérgicos em 50% das associações, sobretudo com fármacos β-lactâmicos e com a cefoxitina. Portanto, TsAP-2 revela ser uma molécula promissora para ser utilizada como protótipo no desenvolvimento de novos fármacos anti-infecciosos.